31 de jul. de 2010

Uma visita surpresa

"Hoje não tenho mais saudade. Dele, nem de você, nem daquele outro.
Arrumei a casa, reformei, pintei. Não me fazem falta as paredes velhas. Nem os velhos retratos.
São apenas boas lembranças de um tempo que foi e não volta.
Sinto, sim, carinho, saudade, sorrio, choro. Mas não escolheria mais voltar. Não existe mais nada no meu passado que eu queira voltar pra corrigir.
Achei uma alternativa mais fácil, e também mais divertida! Posso corrigir hoje, amanhã, depois de amanhã, até quando houverem amanhãs. O futuro é meu.
Não sei se terei tempo de fazer tudo o que deixei de fazer, ou de corrigir os erros e fazer diferente. Mas, quem se importa? Que seja feito o que tem que ser feito.
Errei, aprendi. Não erro duas vezes. Mas, ainda sou tão aprendiz.. Serei eternamente.
A cada página em que eu escrevo: vim, vi, venci; tem outra em branco, logo em seguida.
E a melhor parte é saber que as que eu escrevi, sabe onde estão? Sempre comigo! Coladas nas velhas paredes que eu arranquei.
Mas como, se eu joguei tudo fora? Joguei fora porque nem sempre matéria e essência precisam estar juntas. Pode ser que alguns tenham ficado por jogar, mas não tem problema..
O caminhão de lixo sempre vem amanhã. É um bem público, imbutido na taxa que a gente paga todo mês pro governo.
A minha vontade é sorrir! A casa nova é cheirosa. Gosto dela. Decorei com cuidado. Ainda faltam alguns móveis. E sempre vai ter espaço pra souvenirs, e presentes que eu trouxer de algum lugar que eu tenha ido.. Vou pra onde a vida quiser que eu vá. E caso eu queira ir.
Em alguns casos, vou sozinha, dormindo, sonhando. Em outros, pisarei na areia e sentirei os pés queimando. Olharei pro céu e sorrirei da chuva. Sentirei uma paz enorme só por sentir, como agora. Fecharei os olhos pra lembrar daquele momento pra sempre, pelo cheiro, pelo som.
Mas sempre com o coração..
E o medo? Sempre vem. Mas ele só entra quando eu abro a porta. Que ele se disfarce de convidado, se quiser! Pode tentar! Pode ousar! Por mais que demore, vou descobrir suas intenções..
E não há nada, nada, nada mais forte do que um bem estar e um sorriso que venham de dentro. Encontre isso você também, e seja a pessoa mais forte do mundo. Depois venha me visitar.
Beijos carinhosos."

Beatrice Cartiller

O século das cores


Liguei a música, hoje é Roberto Carlos. Aconselho ouvirem Todos Estão Surdos enquanto estão lendo..
Cada um precisa de uma inspiração pra escrever, essa é uma das minhas. Eu já lembro de ter dito, quase sempre começo a escrever sem saber sobre o que falar.. Deixo fluir. Que assim seja..
Acabou de me vir na cabeça que há um tempo eu escrevi aqui duas perguntas: Qual a cor do século XXI? E qual o sabor do século XXI?
Pois, vou tentar agora explicar o motivo. Eu sou muito sensitiva. Então, enxergo grande parte das coisas através do que elas me fazem sentir. Uma imagem, um som, um sabor, um cheiro, um toque.. Cada um dos sentidos, juntos e separados, me proporcionam diferentes experiências e modos de enxergar as situações que eu vi. E, acredito, eu não estou sozinha. Muitos devem ser os como eu, em maior ou menor intensidade. Já dizia Kant que nada é real, tudo deriva da forma como a gente percebe. Mais uma vez, que assim seja..
E, então, porque eu perguntei? Eu tive um professor que vivia dizendo que, mais importante do que a resposta, é saber fazer as perguntas. Nem sempre são as respostas que fazem a diferença..
A minha intenção não é achar uma única. Nesse caso, eu só quero pensar nas alternativas, e que cada um escolha a que lhe convir. Talvez, nem isso. Se eu conseguisse só deixar claro quantas e tão diversas elas são, estaria satisfeita.
A geração em que eu vivo, em que nós vivemos, é uma mistura. Mas é tanto, que eu não posso deixar de evitar pensar nas diferenças, nem de reparar nelas. Os valores, os amores, os desejos, os medos, os perdões, as ambições, as cobiças, as invejas, as amizades, os pais, os irmãos, as religiões, as culturas. Tudo misturado. Esse poderia ser o século das cores. Porque, de tão diferentes, elas servem como metáfora pras pessoas. Não tem como escolher uma só. Ninguém vive num mundo preto e branco. Nada é preto.. No mais, preto e branco já são duas cores. Impossível usar uma só. Do mesmo contraste, ou da necessidade dele, surge o contraste entre as pessoas. Aquele, aliás, TODOS, são necessários.
O que eu acho mais legal, de toda essa mistura, é que a gente pode conhecer várias cores e escolher nossa preferida. Claro, falo daqueles que possuem essa liberdade. Na prática, são tão poucos. Engraçado, porque deveriam ser muitos. No século passado, tantos morreram lutando por isso. Pra que o azul pudesse ser azul, e não atrapalhasse o verde. Não somos crianças brincando de colorir na escola. Na vida real, a escolha das cores é um pouco menos nítida.
Mas, ora, porque não podemos ser crianças? A inocência, talvez, não possa ser recuperada. A teimosia, o egocentrismo, também não. Mas a essência, aquela que a gente vê nos olhos, porque não?
Estamos, ainda, no começo. Faltam mais 90 anos de história pra terminar o que a minha geração está começando. Eu tenho curiosidade de ver como tudo vai estar, no final deste XXI. Aí sim, poder-se-á dizer a cor. E o sabor. Qual serão?
De quantas cores estaremos falando? Muitas? Poucas? Será que, a todos, será dado o direito de escolher? Eu não devo ser a única a pensar: e quantos vão morrer lutando por este direito? E quantos também vão morrer sem dar a menor importância ou atenção a essa luta? Mas, que luta? São tantas cores, que não se vê mais, estão misturadas!
Afinal, o que é melhor? Que sejam misturadas? Porque assim são menos diferentes?
Ou que sejam separadas, porque assim, cada diferença é respeitada?
A humanidade, como vai estar, pois? Colorida, ou unicolor? E qual vai ser a cor do arco-íris?
O céu, ainda vai ser azul? E as pessoas? Ainda vão se amar? Ainda vão se importar? Ainda vão.. se respeitar?
Muitas perguntas? Talvez eu esteja incomodando a sua comodidade.
Eu estou escrevendo no primeiro um décimo de século. E, se hoje eu pudesse desejar alguma coisa pros outros nove décimos que se seguem, seria que as perguntas não morressem.
As respostas talvez estejam sobrando.

 

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