Estudando
marketing na faculdade, cheguei a uma observação curiosa: nossa sociedade reage
aos princípios de marketing não somente no momento de consumir, mas começa a
enquadrá-los também em outros papeis sociais. Muita gente começou a acreditar
que o dinheiro compra tudo. Uma empresa de cartão de crédito foi extremamente
inteligente com sua campanha dizendo Existem coisas que o dinheiro não compra,
para todas as outras existe Mastercard. Na contraparte, aqueles que contestam
afirmando que as experiências que são for
free são as que importam. Identifico entre esses argumentos dois extremos:
consumo potencializado versus afastamento
social em busca de experienciar atributos não monetários.
Sem partir
para a discussão a respeito da importância desta ou daquela experiência (dentre
as quais, dura realidade, grande parte pode sim ser comprada), comecei a
perceber a popularização da tendência de as pessoas enxergarem as outras como
uma oferta de mercado.
Uma oferta de
mercado, segundo o marketing, pode ser tanto um produto como um serviço, uma
ideia, informação, ou uma experiência, contanto que se proponha a atender
determinada demanda da sociedade. A demanda, por sua vez, constitui-se como a
combinação de um desejo (a forma que as necessidades humanas mais variadas,
como alimentação, pertencimento a um grupo, conhecimento, entre outras,
adquirem) e o poder de compra, que possibilita que a oferta de mercado seja
apropriada. Diante da oferta numerosa de produtos, em grande parte dos
mercados, o marketing se propõe ainda a criar valor e satisfação para o
cliente, não apenas para conquistar novos, como também para criar
relacionamentos (lucrativos) de longo prazo com os antigos (relação de
fidelidade entre eles, baseada em interesses mútuos de lucro X satisfação dos
desejos). A base dessa criação de valor constitui posicionar sua oferta de modo
que o cliente adquira a consciência das diferenças entre determinada proposta e
as demais, o chamado posicionamento de marketing. Cria-se no consumidor uma
expectativa a respeito daquele valor superior – ou seja, dizemos a ele o que
esperar. O que finaliza o ciclo é entregar ao cliente a satisfação prometida.
Não precisa ser expert pra saber que cliente satisfeito volta e cliente insatisfeito, não. |
Estamos,
também, assistindo ao apogeu do fenômeno da “sociedade do espetáculo”: tudo
precisa ser escancarado, e quem/ o que chamar mais atenção, ganha. Quase uma questão
de matar ou morrer, como metaforizou o filme Jogos Vorazes.
E se pararmos para pensar, uma parcela importante dessa lógica se baseia na
criação de expectativas: quero ser famoso, rico, desejado, invejado, amado,
respeitado, odiado, admirado, romantizado, exemplo, quero ser.. quero.. quero.. Que o diga programas como o Ídolos,
onde muitas pessoas vão, mesmo sabendo que não possuem nenhuma performance
notável, para ter seus segundos de fama
na televisão
Esse concerto
de estímulos crescentes ao consumo + palcos de (efêmeras) oportunidades tem
contribuído para a constituição de uma sociedade PhD na criação de altas
expectativas, com foco na impaciência. Do ponto de vista do consumidor, isso
nos torna mais exigentes, o que acaba por impulsionar a busca, por parte da
oferta, de melhores tecnologias, produtos, e mais e mais meios de
diferenciação. Mas, do ponto de vista das relações sociais, considero estarmos
diante da criação de um autêntico padrão: os consumidores sociais.
Pessoas que,
quando conhecem alguém que lhes interessa, depositam nelas suas esperanças de
felicidade assim como o fazem ao comprar uma roupa nova. Convictos, começam a
pensar que, no conjunto de ofertas de mercado estão inclusas também as relações
interpessoais: filmes/livros que falam sobre o assunto já viraram sucesso certo
em Hollywood – especialmente para o público feminino, eu inclusa.
Ré confessa: eu também li. |
E se pararmos
para pensar, o que são esses comportamentos, a não ser uma tentativa de prever
o comportamento humano, da mesma forma que prevemos atribuições de determinado
produto? Um sintoma disso é a perda progressiva da naturalidade - que o digam
os joguinhos sociais. Na verdade, estamos nos tornando acomodados: acostumando-nos
a ter um desejo e satisfazê-lo com um clique do mouse, temos cada vez menos
paciência para esperar. E assim sacrificamos relações e oportunidades, por
querer que elas aconteçam ao nosso tempo e exatamente da forma que esperamos.
Não fica difícil entender a insatisfação generalizada (e multidirecionada) na timeline
do Facebook.
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