7 de mar. de 2013

Relacionamentos não são produtos na prateleira do supermercado




Estudando marketing na faculdade, cheguei a uma observação curiosa: nossa sociedade reage aos princípios de marketing não somente no momento de consumir, mas começa a enquadrá-los também em outros papeis sociais. Muita gente começou a acreditar que o dinheiro compra tudo. Uma empresa de cartão de crédito foi extremamente inteligente com sua campanha dizendo Existem coisas que o dinheiro não compra, para todas as outras existe Mastercard. Na contraparte, aqueles que contestam afirmando que as experiências que são for free são as que importam. Identifico entre esses argumentos dois extremos: consumo potencializado versus afastamento social em busca de experienciar atributos não monetários. 


Sem partir para a discussão a respeito da importância desta ou daquela experiência (dentre as quais, dura realidade, grande parte pode sim ser comprada), comecei a perceber a popularização da tendência de as pessoas enxergarem as outras como uma oferta de mercado.



Uma oferta de mercado, segundo o marketing, pode ser tanto um produto como um serviço, uma ideia, informação, ou uma experiência, contanto que se proponha a atender determinada demanda da sociedade. A demanda, por sua vez, constitui-se como a combinação de um desejo (a forma que as necessidades humanas mais variadas, como alimentação, pertencimento a um grupo, conhecimento, entre outras, adquirem) e o poder de compra, que possibilita que a oferta de mercado seja apropriada. Diante da oferta numerosa de produtos, em grande parte dos mercados, o marketing se propõe ainda a criar valor e satisfação para o cliente, não apenas para conquistar novos, como também para criar relacionamentos (lucrativos) de longo prazo com os antigos (relação de fidelidade entre eles, baseada em interesses mútuos de lucro X satisfação dos desejos). A base dessa criação de valor constitui posicionar sua oferta de modo que o cliente adquira a consciência das diferenças entre determinada proposta e as demais, o chamado posicionamento de marketing. Cria-se no consumidor uma expectativa a respeito daquele valor superior – ou seja, dizemos a ele o que esperar. O que finaliza o ciclo é entregar ao cliente a satisfação prometida.

 Não precisa ser expert pra saber que cliente satisfeito volta e cliente insatisfeito, não.

Estamos, também, assistindo ao apogeu do fenômeno da “sociedade do espetáculo”: tudo precisa ser escancarado, e quem/ o que chamar mais atenção, ganha. Quase uma questão de matar ou morrer, como metaforizou o filme Jogos Vorazes. E se pararmos para pensar, uma parcela importante dessa lógica se baseia na criação de expectativas: quero ser famoso, rico, desejado, invejado, amado, respeitado, odiado, admirado, romantizado, exemplo, quero ser.. quero..  quero.. Que o diga programas como o Ídolos, onde muitas pessoas vão, mesmo sabendo que não possuem nenhuma performance notável, para ter seus segundos  de fama na televisão



Esse concerto de estímulos crescentes ao consumo + palcos de (efêmeras) oportunidades tem contribuído para a constituição de uma sociedade PhD na criação de altas expectativas, com foco na impaciência. Do ponto de vista do consumidor, isso nos torna mais exigentes, o que acaba por impulsionar a busca, por parte da oferta, de melhores tecnologias, produtos, e mais e mais meios de diferenciação. Mas, do ponto de vista das relações sociais, considero estarmos diante da criação de um autêntico padrão: os consumidores sociais.



Pessoas que, quando conhecem alguém que lhes interessa, depositam nelas suas esperanças de felicidade assim como o fazem ao comprar uma roupa nova. Convictos, começam a pensar que, no conjunto de ofertas de mercado estão inclusas também as relações interpessoais: filmes/livros que falam sobre o assunto já viraram sucesso certo em Hollywood – especialmente para o público feminino, eu inclusa.


Ré confessa: eu também li.
E se pararmos para pensar, o que são esses comportamentos, a não ser uma tentativa de prever o comportamento humano, da mesma forma que prevemos atribuições de determinado produto? Um sintoma disso é a perda progressiva da naturalidade - que o digam os joguinhos sociais. Na verdade, estamos nos tornando acomodados: acostumando-nos a ter um desejo e satisfazê-lo com um clique do mouse, temos cada vez menos paciência para esperar. E assim sacrificamos relações e oportunidades, por querer que elas aconteçam ao nosso tempo e exatamente da forma que esperamos. Não fica difícil entender a insatisfação generalizada (e multidirecionada) na timeline do Facebook.


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