23 de out. de 2013

E se: a geração Y parou de fazer perguntas?



Imagine viver 24 horas observando as situações e se perguntando o porquê de elas acontecerem. Essa é a minha realidade. Por mais que eu não encontre respostas sempre, pelo caminho acabo me deparando com algumas possibilidades.

A minha questão de hoje surgiu quando, sentada ao fundo da sala de aula do meu curso, administração, o professor perguntou a alguns alunos qual era o perfil deles: se eles se consideravam conservadores ou inovadores. Apesar de estar escrevendo no computador, eu estava atenta às respostas, e curiosa. Dentre todos os lugares e cursos, o de administração é onde se espera que haja maior número de espíritos inovadores, certo?


Imagem de: http://racionalizandoideias.blogspot.com.br/2011/05/o-professor-e-o-curriculo.html

Errado. Pelo menos na minha sala, eu fui a única entre os questionados a responder “perfil inovador”. O professor continuou a aula, mas eu desviei minha atenção pro que, pessoalmente, considerei uma constatação bem preocupante.
Explico:
1.       Quem vai estudar administração, sabe que a atividade principal da área é tomar decisões, certo? Hoje mesmo outro professor reforçou isso. E apesar de tomar decisões todos os dias, e ser uma atividade comum em outras áreas, na administração, essa é a atividade principal. Os administradores buscam respostas e soluções.
2.       Em qualquer curso universitário composto majoritariamente por jovens – a geração Y, em pleno século XXI, a opção “perfil conservador” não é a resposta mais esperada.
3.       No mundo em que vivemos, globalizado, fronteiras relativizadas, soberanias contestadas, competição acirrada, capitalismo avançado, fluidez social.. inovar pode ser interpretado como “moda”, “necessidade” ou “obrigação”.
4.       Ou pelo menos, esses argumentos fazem parte da lista de justificativas dos que preferem uma vida em terreno conhecido e sem muitas aventuras ou riscos (profissionais, de início, mas que se refletem na vida pessoal com bastante frequência).
5.       É aqui que entra a minha preocupação: se os jovens U – leia-se união, símbolo matemático mesmo - futuros administradores estão seguindo o caminho do conservadorismo, a quem cabe os questionamentos? Se os futuros gestores – no sentido amplo, em qualquer setor ou atividade -, que deveriam estar cientes das transformações sociais, históricas, econômicas e políticas das últimas décadas, se dizem conservadores, de onde virão as novas ideias?
6.       Vejo muitos jovens reclamarem de muitas coisas, mas vejo poucos querendo tomar para si um pedaço da responsabilidade em resolver os problemas que os incomodam. De uns tempos pra cá, tenho convivido com tantos inquietos como eu, que esqueci dessa realidade. Hoje eu acordei.
7.       Apesar de não existir apenas uma resposta para nenhuma pergunta, e eu ser apenas uma jovem querendo incomodar, eu sei que muitos desses jovens não estão nessa posição por vontade própria. Assim como outros estão conscientemente. Não há regra.
8.       Eu não pretendo responder nenhuma dessas perguntas, apenas deixar a reflexão para professores, amigos, estudantes, e todos que se interessarem.
9.       Inovar não tem nada a ver com moda. Inovar tem a ver com buscar ativamente respostas para as próprias perguntas, e descobrir que muitas delas permanecem apenas perguntas. E então, inovar significa não se contentar com a ausência de resposta, e sim encontrar formas de criar a sua. Que talvez sejam as mesmas de outras pessoas. Inovar tem a ver com deixar de se incomodar ou de empurrar com a barriga para empreender a própria vida e não deixar nas mãos do destino.
Imagem de: www.carreiradeti.com.br


10.   O fato de que, em uma sala onde a maioria deveria pensar dessa forma, poucos pensam – apesar de ser uma pequena amostra, pode ser visto como um sinal de alerta. Afinal, repetindo em outras palavras o que disse o professor de Processo Decisório na outra aula que tive hoje, uma resposta bem elaborada para a pergunta errada é a mesma coisa que uma resposta errada pra pergunta certa. A resposta errada todo mundo sabe. Da mesma forma, sem as respostas certas, não existem soluções. 

Você já pensou nisso?


(Postado originalmente na minha página pessoal do Facebook, levemente adaptado para o blog)

Em breve disponível no Portal: www.papodeuniversitario.com.br, onde a autora irá escrever, entre outros temas, sobre política.

7 de out. de 2013

Equilibrista: você também é, mesmo que não saiba



Quando a gente olha a vida das pessoas de fora, a gente acha que tudo caminha sempre bem. Aquele ditado sobre a grama do vizinho ser sempre mais verde. Pensamos que eles cumprem sempre prazos, são 24 horas e nos 7 dias da semana inteligentes, carinhosos, simpáticos, como naquela fração de tempo em que convivemos com eles e tivemos essa impressão. Um recorte de convivência que nos faz acreditar que a versão estendida da vida daquela pessoa é uma réplica fiel do spoiler a que tivemos acesso.


E por isso, existem aqueles que pensam: como fulano consegue conciliar tantas tarefas, ser tanta coisa e fazer com que tudo se encaixe?

"E eu, vivo aqui me equilibrando numa corda bamba, na maior parte do tempo sem muito sucesso, levando algumas quedas e precisando recomeçar?"


Na verdade, ninguém consegue dividir sua vida em faces equiláteras. 
Existem aqueles que, com cursos de gerenciamento de tempo e disciplina, aproximam-se desse patamar. Mas, mesmo eles, são suscetíveis a uma variável independente que interfere e relativiza tempo, disposição e espaço: as emoções. 
A nossa humanidade, nossos sentimentos, aquilo que compreende a impressão pessoal de cada um, é também um lembrete perpétuo de que não existe equilíbrio perfeito na prática. Meu terapeuta me disse isso uma vez, e por mais que tenha me doído um pouco escutar, eu comecei a reparar nas pessoas, em suas vidas, e na minha própria vida, para confirmar a validade da afirmação dele. 


Existem fases, momentos, e desequilíbrios. Estamos indo bem, acordando cedo, fazendo tudo como planejamos, quando, de repente, algo acontece. Uma viagem, uma oportunidade que muda tudo, uma fragilidade de saúde, um amor, uma perda, uma saudade. Seja qual for a causa, a consequência é que novamente voltamos à estaca zero, e as coisas desandam. Nossos tempos se ressignificam, nossas vontades se redirecionam, nossos desejos se reformam. E de repente, aquela preguiça que achávamos ter nos abandonado, volta no mesmo ócio procrastinador de outros tempos, para contestar nossa comodidade e ousadia de achar que podemos mesmo ter controle da vida o tempo todo. 


E então, estamos diante de outra chance de reconstruir: abandonar um hábito que nos incomodava, adotar um novo que sempre desejamos ter. De um lado ou de outro, a realidade não vai se desenhar sozinha. E, acredite, é um desenho trabalhoso e que demanda dedicação.


Digo isso para demonstrar que aquelas frases prontas carregam verdades tão profundas quanto simples: o começo depende da vontade, enquanto a continuação depende da falta de vontade sendo contestada continuamente. Porque, acredite, a indisposição vai aparecer. 


O que deve ser maior é a sua lembrança da sua vontade, que supera essa centelha de obstáculo interno ou qualquer outro que venha a aparecer. Quando um amigo me disse, no começo de um dos meus projetos, quando eu estava bem empolgada, a frase: “Guarde esse sentimento, e lembre dele”, eu pensei: “Claro que vou guardar, o que ele está falando?!”. 
Um tempo depois, eu percebi: aquele sentimento é a lembrança que me faz continuar, toda vez que algum obstáculo bobo aparece, e minha reação imediata parece sofrer de amnésia. 



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