6 de jul. de 2009

Verbativo, Heráclito e a teoria da relatividade

Escrevi esse texto em 2007, logo que cheguei em Recife. Entre abril e junho..
Gosto muito dele, perdi meus textos e achei que tinha perdido esse. Graças a Deus ele estava no meu email, nos emails enviados.

Morar em outra cidade é uma coisa complicada. Você vive numa ponte, e não sabe pra que lado ir. Na verdade, você sabe, mas às vezes saber não é suficiente. A mudança é, em muitos casos, uma decisão pessoal, se não, pelo menos há um consentimento pessoal, e se não há, é necessário que se descubra um meio de criar, porque é necessário. É estimulante, desafiador. Mas não é fácil, nem maravilhoso. É um dia-a-dia que você tem que criar sem base nenhuma, sem os amigos de sempre, sem o apoio direto dos pais e familiares, e até dos amigos, sem um chão firme pra pisar. Você entra em terras estranhas, e eu considero essa a melhor definição dentre todas que possa encontrar-se: areia movediça. Claro, existem n pessoas que se dizem dispostas a ajudar: “Qualquer coisa pode me avisar”, “Estou aqui pro que for preciso”. E, por mais que isso não ajude, acredite, ajuda. Mas não da forma literal, ou da forma que você pensa que vai ajudar. Ajuda, sim, de outra forma, que talvez só entenda quem passa por uma situação parecida: não há coisa pior do que descobrir que você viveu, até aquele momento, acreditando depender o mínimo possível das pessoas, quando na verdade o mínimo era máximo. E esse máximo incomoda tanto que você se empenha avidamente na tentativa de extinguir essa incômoda descoberta, mas não dura muito tempo até você perceber que não foi muito válida a sua tentativa. É fato, ainda que evite ser admitido por grande parte de nós: vivemos querendo conquistar uma independência que na verdade não passa de uma busca pela melhor forma de assumir que somos, todos, direta e indiretamente, dependentes de todos os tipos de relações sociais que se possa ter simultaneamente. Sejam elas superficiais, falsas, ou as tão raras verdadeiras e profundas, precisamos de todas. E descobrir isso é, ao mesmo tempo, angustiante e aliviante. Mas não se iluda, essa é só mais uma das descobertas, porque eu já percebi que descobrir é um verbo que possui uma quantidade exorbitante de substantivos que estão tão intrinsecamente ligados a ele que algumas vezes seria melhor descobrir em meio aos gramáticos uma nova nomeação que se encaixasse entre verbo e substantivo. Não sei, talvez verbativo, não, não verbete, mas enfim. Não é essa minha especialidade. Voltando ao morar fora. Você descobre que não é tão fácil assim encontrar amigos como os seus, e que talvez você nunca os encontre, mas mesmo sabendo disso você precisa acreditar que pode encontrá-los, e, mais ainda, você tem que estar preparado e disposto a procurar, porque eles podem estar em qualquer lugar, ou em lugar nenhum. Mas ainda fico com o otimismo. Ah, e como a importância do pouco e bom aumenta, como aumenta. “Poucos e bons”. Momentos, distrações, colegas aconchegantes (os quase-amigos, aqueles que você não descobriu ainda o que falta pra se tornarem seus amigos), tempo livre, tempo livre bem gasto, cúmplices. E as esperanças? As histórias imaginadas, as aventuras a ser realizadas pra desbravar o território desconhecido? Na prática você descobre que elas dependem mais de você do que dos rumos que sua vida vai tomando. E aí reaparece um pouco do egocentrismo que Piaget descreve nas crianças no desenvolvimento cognitivo, ou pelo menos, é o que deve acontecer: deixe de lado a noção de causalidade, porque as coisas realmente vão depender de você pra acontecer. Em todos os sentidos. Os outros? Cuidam de suas respectivas vidas, incluindo a sua pessoa em um pedaço ou outro, mas, me desculpe a sinceridade, eles não possuem, ainda, motivos pra incluí-lo em nada mais que isso. Nada que não possa mudar. Como dizia Heráclito: tudo flui. Aquele nome, que desde criança você escuta como uma característica que você deseja intensamente possuir quando crescer, e aí você cresce sem perceber e chega a hora de buscar o merecimento da atribuição, ah, sim, a responsabilidade, veja bem, é bem mais fácil alcançá-la do que eu pensava. Basta um pouco de consciência de situações globais. E nesse ponto eu não posso dizer nada além disso.
As horas costumam passar, pelo menos, três vezes mais rápido, e nesse momento eu queria ter um encontro com Einstein para parabenizá-lo por essa tal teoria da relatividade, porque ela realmente funciona. E, engraçado, você encontra tempo pra tudo! Mas, um conselho, cuidado com aquele tão falado estresse, porque ele literalmente não é uma situação inventada pelos farmacêuticos para vender mais Prozac, é fato e existe. Como tantas outras lendas ou palavras sutilmente presentes em nossas rodas de conversa, que você começa a perceber que na verdade sempre existiram e quem não era capaz de notar era você. Mas isso é tema pra outro dia...

4 de jul. de 2009

Não tenho paciência pra televisão.

Resolvi roubar essa parte da música pro meu post de hoje, porque ontem, assistindo TV, ou tentando assistir, descobri que não tenho paciência. Fico logo inquieta. Ou eu vejo filme, ou então o programa tem que ser muito bom pra me prender. Como hoje em dia não existem programas de muito alto nível, conclui-se que dificilmente eu sou presa por alguma coisa que passa na tv.
Enfim, o post não é necessariamente sobre isso. Numa sexta-feira à noite, eu fiquei em casa, e irritada porque o fiz. Fui dormir tarde, e, apesar de cansada, devia ter saído.
Em férias, é impossível não deixar, em algum momento, a cabeça desocupada. Mas eu já concluí que essa atitude não é nem inteligente nem saudável, e decidi nesse momento que me esforçarei para não fazê-lo. Tenho muito no que pensar, mas preciso não pensar em nada por um tempo. Nem que sejam uns dias.
Algumas vezes, quando certas decisões lhe cabem, é preciso que você pense nelas o tempo todo, até chegar a uma linha de pensamento, a uma decisão final. Mas, em outras ocasiões, mesmo que você decida sozinho, o andar dos fatos não depende nem vai ser coerente com o que você quer. Ou, pelo menos, não necessariamente. Essa é a arte de lidar com o imprevisível. E de se sentir impotente, de tentar se acalmar e deixar que os fatos e as situações decidam sozinhos.
Eu acho, aliás, tenho quase certeza, que 95% das pessoas, como eu, odeia essa espera. Contudo, isso não anula nem diminui a agonia e a ansiedade de não poder fazer nada. Talvez, se aceitássemos mais serenamente essa realidade, nossa vida fluísse melhor. Não literalmente, porque mesmo que a gente não queira, as coisas fluem. Contra nossa vontade. Mas, quando você nada junto com a correnteza, chega mais rápido aonde você quer chegar.
Estou considerando a possibilidade de pegar uma carona na próxima correnteza. Espero que ela seja aquecida, e forte o suficiente para não me deixar desviar. Porque, já entendi, não posso fazer mais nada.
Existem certas coisas, certas atitudes, certos resultados, que simplesmente não dependem de você. E, mesmo que você possa fazer A ou B para contornar isso, nada vai realmente resolver o problema, a menos que ele deva ser resolvido. Como eu também não gosto de migalhas, prefiro deixar que ele se vá, e que o destino final seja determinado, na hora certa, por quem quer que seja, aonde quer que seja, como tiver de ser. Eu estarei na correnteza, e na hora certa, chego lá.

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