13 de nov. de 2012

Eu aprendi que..


Que fique claro, não me considero velha. De forma nenhuma. Amo estar vivendo os 20 e poucos anos, apesar de todos ônus dessa fase. Todas tem, no final das contas. Enfim.
Mas, desde os meus 12 anos mais ou menos, aprendi e mudei um bocado. Por isso, eu uso o termo quando eu era mais nova. E com ele, começo mais uma reflexão.

Porque, quando eu era mais nova, eu acreditava que eu precisava ser gentil, educada, atenciosa, amiga e companheira com todo mundo. E que todo mundo precisava gostar de mim. Digo, todo mundo mesmo. Por nenhum segundo sequer eu levava em consideração expressar meus reais sentimentos, porque se fossem condenáveis, não deveriam existir. Então, engoli sapos, enterrei mágoas, e muitos discursos morreram no espelho. Porque, acima de tudo, eu acreditava que as pessoas precisavam me aprovar, porque isso significava que eu era alguém admirada, querida, amada, respeitada. Um conto de fadas.

Enquanto acreditei nisso, consegui ser feliz, mas em intensidade muito menor. Digo, tristezas existem sempre, mas naquela época, eu nem as colocava pra fora. Não podia parecer fraca. Não, tinha que ser forte. De certa forma, aprendi muito. Amadureci muito.

Mas, minha vida começou a me pertencer de verdade quando eu deixei essa ilusão pra trás.



Com o tempo, eu entendi que, por mais gentil que você seja, sempre vai ter alguém pra te achar estúpido e mal educado.
E, por mais justo que você tente ser nas suas decisões e na sua vida, alguém vai te julgar egoísta, injusto e irresponsável.
Por mais responsabilidades que você assuma, nunca vai se sentir admirado o suficiente.
Que, se pra um alguém você é especial e único, pra outro alguém, você não significa nada exceto uma história na linha da vida.
Que por mais amiga que você possa ser, você não vai conseguir ser amiga de todo mundo. 
E aqueles que não te conhecem, vão te pintar de falsa e invejosa.
A sua vida, e suas decisões, nem sempre vão ser compreendidas. 
Suas escolhas, constantemente contestadas.
Seus sonhos poderão vir a ser tratados como um documento seguindo um protocolo. E você pode correr o risco de perdê-los, se não lutar por eles.


Nascemos e vivemos em sociedade. Precisamos do convívio social. Mas isso não significa que ele seja sempre como deveria ser. Inclusive, não significa que você deva ser como os outros gostariam que você fosse.

A sua argumentação mais extensa não é capaz de expressar ou conter sua identidade, a ponto de que outro entenda apenas ao ler/ouvir. Anos de terapia, e nem mesmo seu terapeuta vai te entender, como você mesmo é capaz de se compreender.


Contudo, enquanto você depositar nos outros a capacidade de julgar e decidir seus caminhos, aquele grito dentro do peito, de uma conquista muito almejada, não vai acontecer. Porque, sem a liberdade para decidir quem e o que você considera algo a ser alcançado, nem a vontade vai existir, em primeiro lugar.


E os outros? Bem, eles sempre vão estar lá. 


Mas, quando entendi a finalidade do conceito memória seletiva, percebi que, o que não acrescenta, não tem espaço na minha vida.


26 de out. de 2012

Se não tem luz, não tem história?


Desde pequena, eu não podia dormir de cabelo molhado. Era certo que ia acordar com a garganta ruim. Virou hábito nunca dormir sem tirar toda água dele.

Ontem teria sido uma noite comum, se não tivesse faltado luz quando eu tava embaixo do chuveiro. A minha reação foi pensar em como essa nova realidade ia me afetar, e agradeci a mim mesma pela prudência de ter velas guardadas na gaveta. Aí, lembrei do cabelo. Não tinha solução, eu ia ter que esperar que ele secasse naturalmente (o que, no meu caso, demora cerca de duas horas).

Eu teria ficado tranquila, se eu fosse passar essas duas horas fora de casa, numa tarde de sábado qualquer, conversando com alguém, sem hora pra acordar (cedo) no outro dia. Principalmente, se fosse num momento em que o sol ainda estivesse presente. 
Mas, não me agradei quando percebi que iria passar essas duas horas sozinha, no escuro (no meu prédio, não tem gerador. Meu celular descarrega rápido, e eu precisaria dele pra me acordar de manhã. Meu computador tem a bateria viciada. E eu não tenho Ipad).


Eis que eu parei e pensei: e agora?

E então, meus caros, foi quando eu refleti seriamente, e pela primeira vez na minha humilde existência, sobre como nos tornamos dependentes da luz. Leia-se, da energia: desde que o ciclo do dia passou a ter 24 horas, e não apenas as 12 horas de luz solar de outrora. Subitamente, as crises do Petróleo e a invasão do Iraque tornaram-se compreensíveis pra mim em outro nível. Eu acho que até comecei a tirar meu chapéu pro pensamento estratégico de longo prazo dos norte-americanos. Como a nossa sociedade reagiria a um retrocesso evolutivo como esse? Um parêntese: aqui me refiro àqueles que tem acesso à energia, porque existe ainda grande parcela de seres humanos que desconhecem o significado de uma tomada.

Aqui, o tempo parou.
Voltar aos tempos de velas, papel e caneta, banho frio, calor sem ar condicionado e frio sem aquecedor (final do século XIX e início do século XX)? Quantos livros deixariam de ter sido escritos sem um computador, quantas amizades não teriam sido feitas, quantos problemas permaneceriam sem solução? 

Quão dependentes nos tornamos, afinal?

Eu não posso responder por todos, mas tenho certeza de que não fui a única a me sentir meio perdida. Cheguei até a sentir uma momentânea perda de identidade. O que, de fato, parece exagero. Mas, se para mim a duração desse momentum foi curta, para outros pode ter se prolongado. O que me fez “voltar a mim” foi a vontade de falar sobre isso. E, com a minha vela grudada no pires (este, de cabeça pra baixo), peguei meu caderninho e comecei a escrever. Não estava escrevendo nenhum Rosa do Povo, mas me senti próxima de uma artista literata, como o computador nunca tinha me feito sentir.

A vela, e meu caderninho.

Refleti sobre as outras pessoas, em suas casas, e me perguntei quantas delas tinham velas.
(Claro, muitos tem gerador. Mas mesmo o gerador não consegue suprir todas as necessidades, de todo mundo.)

Tinha uma noção da grandiosidade da queda de energia, porque uma amiga que morava em outro bairro havia me mandado uma mensagem: faltou luz? Mas só entendi realmente a dimensão do apagão quando acordei, e vi no celular a resposta de outro amigo, de outra cidade vizinha: faltou luz aqui também. Liguei a TV pra ouvir a notícia que o evento ocorrera em grande extensão do Nordeste, e em outras regiões, pontualmente. Se eu pudesse, passaria a manhã de hoje perguntando às pessoas como se sentiram, como reagiram, o que acabaram por fazer. Uma curiosidade imensa me tomou (e ainda toma).

Drummond quando moço.



Quanto à mim, a verdade é que me percebi gostando de ser meio século passado. A sensação de desligamento com o mundo (ainda que parcial, por causa do telefone), o silêncio redobrado apesar da hora..







Era uma vez um tempo onde..
Ainda assim, não posso deixar de pensar e me preocupar quanto aos outros. Porque, se ainda estamos em contato direto com uma geração que viveu sem essas tecnologias que temos hoje, e que reiteradamente demonstra que o que há de mais valor não se resume a um fluxo de partículas eletrizadas– nossos avós - em breve, seremos nós os que terão netos. E definitivamente não somos uma geração que possui, a priori, essa tranquilidade no viver e essa autonomia no agir.


E então, quantos terão herdado, serão capazes e estarão dispostos a repassar aquela simplicidade de viver que vemos em nossos idosos?  Porque, na ausência de luz, foi a minha humanidade que me resgatou. E meus livros de cabeceira. Contudo, como não me cabe o poder de mudar aos outros, tomei uma decisão firme: o primeiro grande investimento da minha vida será num painel de luz solar. E meus filhos definitivamente vão passar a semana sem internet.

Deixou de ser "frescura sustentável" pra virar uma necessidade urgente.



22 de out. de 2012

One way


A noite não tinha sido fácil. Uma mistura de ansiedade, medo, angústia. Agora que chegava a hora, fraquejava. Pensou cuidadosamente nos motivos da sua decisão, repassando cada um deles, já sem nenhuma pausa. Foram tantas as vezes em que havia repetido para si, que as palavras se tornaram quase um mantra dentro da sua consciência. Não há mais nada a ser feito, já fiz tudo o que eu podia fazer, outras oportunidades me esperam em outro lugar..

Chegou a sonhar no meio da noite, imaginando-se na porta do avião, quando uma mão sem dono puxava seus cabelos e lhe pedia para ficar. Sem dono, porque ela já não existia mais. Doía-lhe lembrar e reviver os tempos em que as suas mãos as seguraram, e que chegou a pensar que tivesse encontrado a felicidade permanente. Hoje sabia que esse tipo de pensamento não se encaixa em nenhum tipo de realidade, mesmo que a sensação seja boa, muito boa.

Abriu os olhos um minuto antes de o despertador tocar, porque na verdade o sono lhe escapara há alguns dias. Levantou cautelosamente, evitando pensar, e cantando mentalmente aquela canção que tanto gostava: Não responda nunca, meu amor, pra qualquer um na rua, beija flor..
A mala já estava pronta e a roupa por usar, encima do banco, ao lado da cama. Levantou num pulo e tomou um banho quente, desejando que a água levasse junto todos os titubeios, todos os E se que insistiam em invadir seus pensamentos, e que a coragem não lhe faltasse. Sem pensar, pegou o primeiro táxi que apareceu na rua, e disse apenas: Aeroporto.



Dessa vez, não havia de quem se despedir. Aos familiares, deixara uma carta dizendo onde estaria, que logo enviaria seu contato, que esperava uma visita – nada que eles não soubessem. Aos amigos, o silêncio. Os verdadeiros entenderiam, pensou.







Desceu no aeroporto, e se percebeu andando vagarosamente em direção à fila da companhia aérea. Uma tentativa inconsciente de retardar uma partida que, no fundo, sabia que já vinha tarde. Não havia motivos pra ficar, por mais que tentasse construir realidades paralelas, outras opções não se lhe apresentavam, pelo simples motivo de não serem possíveis. Desistira há tempo de lutar contra o inevitável, mas agora que chegara o momento, percebia-se tão ou mais esperançosa do que antes, uma esperança morta, de um porvir que ficou pelo caminho. Chegou a questionar a própria sanidade, pela capacidade de continuar insistindo em caminhos sem saída.
Engoliu em seco quando a mulher do balcão desejou boa viagem. A primeira viagem que fazia e que não tinha outra escolha, senão partir. Questionou-se: como pudera por tanto tempo adorar aeroportos? Naquele momento sentia uma repulsa enorme, e uma opressão no peito. Olhou em volta em busca de um motivo pra ficar, mas sabia que não havia nenhum.

Sentou no avião, desejando que os olhos se fechassem e pudesse esquecer. Finalmente, seu desejo foi atendido. Recostou-se na cadeira e, apesar de todos os sentimentos que lhe dominavam, foi tomada por um cansaço incontrolável, e por uma certeza de que as coisas não poderiam piorar. Logo, melhorariam.  Remexeu-se na cadeira quando o avião decolou, para logo voltar a um lugar onde não sentia, ouvia, via, nem pensava em nada.



23 de set. de 2012

????


De certa forma, eu prefiro me manter isenta de expressar opinião sobre certos assuntos, o que não significa que eu não pense sobre eles. Faço isso porque, se a discussão de um tema pode em muitas vezes ser produtiva e recriar ideias e pontos de vista, em tantas outras representa uma falácia entre surdos caricatos. A ausência de língua dos sinais e presença da fala só evidencia quão absurda é essa afirmação.  De fato, em grande parte do tempo as pessoas não estão dispostas/preparadas para desistir de sua opinião ou ceder ao outro. Essa capacidade, de humildade relativista, é para poucos. Dessa forma, não digo que a possuo, mas decerto, almejo-a.  E coloco em prática, sempre que identifico que teimosia/medo/orgulho são os motivos que me fazem resistir a um argumento. Por isso, não são poucas as vezes que guardo pra mim mesma opiniões fundadas, outras conspiratórias, enfim.

O silêncio pode ser uma escolha.

A minha expressão de opinião, apesar de toda liberdade constitucional de exercê-la, ainda é limitada. Infeliz constatação, que faço por reconhecer que, como eu, muitos outros gostariam de viver numa sociedade em que os filtros não paralisassem, os medos não bloqueassem, e não houvesse tantos portões entre as ideias de duas pessoas.






Estamos rodeados de superegos, e essa constatação chega, quando em vez, a me enfadar.











Não sou dona de nenhuma verdade, mas gosto de usar argumentos como manobra de discussão pacífica, de refletir como observadora não participante. E me entristeço, muitas horas, porque olho ao redor e grito. E percebo que pouco reverbera. Que, se existem muitos acomodados, existem também tantos outros, que ao contrário, estão entediados.



Entediados por se verem diante de uma homogeneidade previsível, uma criticidade superficial e opiniões paralelas não por escolha, mas por conveniência. Um professor uma vez me disse que eu tinha as respostas certas, mas não estava elaborando as perguntas corretamente. Um tiro no escuro, em suma. Ele não foi o único, e demorei a entender que não estou sozinha nessa teimosa redundante.




Somente quando comecei a perguntar que comecei a entender. O problema das perguntas é que, diferente das respostas, são o norte do raciocínio. Existem várias respostas certas, mas a pergunta errada pode nos conduzir a um precipício cuja volta é uma rua sem saída. Porque elas te levam mais longe, mas ao mesmo tempo esse caminho não pode ser facilmente recuperado.


Isso significa que, a partir do momento em que você começa a fazer perguntas, recai sobre você o peso da responsabilidade pelo erro.

 E, com essa disseminação de supergos dotados de uma ideia distorcida de humanidade, o erro chega a ser uma praga. De repente, estamos diante de um coletivo estrondoso de especialistas em probabilidades que buscam o caminho mais seguro e certo, e arriscam-se cada vez menos no terreno da incerteza. Tendo/sendo ou não um componente idade versus experiência nessa equação, continuo defendendo a posição de que a comodidade não é justificativa, apesar de ser extremamente tentadora. Em um ambiente complexo e em constante transformação como o que estamos vivendo, eu chego a agradecer à minha memória seletiva que tenha esquecido as fórmulas de análise combinatória. Tem certas respostas que devem permanecer na escola.   

19 de set. de 2012

O imperfeito que pode ser perfeito

Ultimamente tenho conversado com amigos, e visto que muitos andam desanimados com a perspectiva de ter um relacionamento, tanto homens quanto mulheres. Possuem diversas justificativas: vão de escassez de gente interessante à excesso de gente que não sabe – nem quer saber – o que quer da vida, nem com a vida. Também tem imaturidade, medo de se envolver, sofrimentos passados. Insegurança, traumas de família, valores revertidos. 

São diversos os motivos.

Eu, como boa idealista que sou, vim aqui levantar a bandeira da esperança. O que não significa, de forma alguma, que vou pintar perfeição e ilusões. Porque isso, diversos meios já fazem. Estímulos diversos insistem em nos fazer absorver a ideia de que casais são eternamente felizes e que nunca vai haver nada errado. Das razões para que os relacionamentos não deem certo, eu acredito que essa seja a maior delas. Essa insistência reiteirada de que a felicidade entre duas pessoas deve ser constante. Ora, como poderia? Se sozinhos, não conseguimos alcançar esse nível de perfeição existencial, como duas pessoas diferentes, juntas, podem fazê-lo?






Esse tabu de felicidade inerente, perpétua e inquebrantável, vou te contar, atrapalha bastante. As capas de revista e os filmes costumam estampar uma realidade fantástica sobre sorrisos e alegrias forever and all the time, que penetram no nosso imaginário e permeiam a nossa busca por felicidade. 



Não quero entrar nessa discussão, porque ser feliz é um conceito relativo demais e fluido, também. 
Mas, de uma coisa sabemos, mesmo sem querer admitir: nenhum estado das coisas dura para sempre. Se não é assim com a tristeza, também não poderia ser com a felicidade.

Por isso, queridos leitores, entendamos de uma vez por todas (eu incluída) que não existe relação perfeita. Isso significa que percalços no meio do caminho são parte integrante de qualquer relacionamento, envolvendo: dúvidas, constrangimentos, discussões, acessos extremos, amores e desamores, boas fases e outras não tão boas assim. Ouvi uma frase dia desses, que dizia que estar num relacionamento envolve ter outras opções todos os dias, e ainda assim fazer a mesma escolha. Do mesmo modo, podemos escolher fazer dar certo. Mas, esse tema pode enveredar por tantas questões que preciso me concentrar pra não perder o foco.


Por outro lado, uma observação que andei fazendo recentemente. E percebendo repetidamente. 
As pessoas não são, da mesma forma, imutáveis. 
Claro, algumas demoram mais tempo para aprender com os erros, evoluir, crescer. Mas, partindo do pressuposto que todas tem a mesma oportunidade de fazer da vida um instrumento de aprendizado constante, uma perspectiva interessante de encarar as coisas seria tentar desenquadrar tudo.


 Digo, as próprias pessoas, seus comportamentos, e a si mesmos. Sair da zona de conforto.
Sair da zona de conforto. Sair da zona de conforto. E arriscar-se. 
Eu sei, nada fácil.



30 de ago. de 2012

Optei pela teimosia. Will you join me?



Nascemos (a depender da teoria, um livro em branco ou não), e ao longo da vida fazemos escolhas, definindo a pessoa que vamos nos tornar. Isso porque não somos, nem devemos ser, a mesma pessoa, todos os dias. A combinação das nossas características psicológicas/emocionais/espirituais são o equivalente subjetivo do DNA. Retirando-se as análises biológicas, químicas e variantes, no que tange a afetarem ou  não a caracterização de um alguém, me atenho somente ao que se refere à consciência – como uma ex-futura psicóloga, essa minha vontade de falar de comportamentos nunca vai deixar de existir.  



Cada experiência carrega pedaços, ainda que pequenos, que compõem a nossa história e tornam o desenho único. Uma forma de nos reconhecermos no nosso passado e no que vivemos, e também uma forma de nos tornarmos reconhecíveis aos queridos que compartilharam, aqui e ali, momentos, significações, lembranças..




Contudo, existem certos pedaços da gente que teimamos em assumir, inclusive pro nosso eu interior. Aquelas características que, independente da qualidade que possuam, nos tornam de algum modo menos agradáveis aos nossos próprios olhos, ou superestimam nosso ego de forma reprovável por outrem.  Todos assumem para si aquilo que acreditam ser socialmente aceitável, porque uma vez assumidos, são externalizados sem dificuldades e sem problemas de aceitação. Dificil mesmo é confraternizar com aquela pequena característica, que nos torna diferentes, e nos expõe, fragiliza, ridiculariza, fortalece - e  outras variantes dos riscos de todo conhecimento que se torna público, ainda mais nos tempos de internet.






Nunca foi difícil ser igual a todo mundo. Dificil mesmo é ser diferente, assumir essa diferença e viver com ela. Quando eu digo viver com ela, quero dizer aceitar, de uma vez, que as singularidades humanas são  ímpares, e exatamente o que tornam duas pessoas, iguais em quase tudo, especiais e únicas.





Pois, toda essa minha argumentação aconteceu para que eu pudesse fazer uma declaração a respeito de mim mesma, esperando ecoar em corações semelhantes: eu nasci e vou morrer sendo uma romântica.


No sentido amplo, estrito, abstrato, concreto. Isso significa, antes de tudo, que eu sou extremamente teimosa. Porque a humanidade insiste em apresentar provas em contrário, mas eu nunca a entreguei o ônus da prova: vou sempre preferir acreditar nas pessoas. Que eu seja traída, enganada, usada, que mintam, que falem, que eu sofra. Vou cair todas as vezes, mas vou continuar acreditando




Acreditando que, imperfeitos que somos, não deixamos de ser capazes de amar ao próximo, de considerar e nos sensibilizar pelo sofrimento do outro, e que podemos ser menos egoístas, sim, mesmo com essa sociedade tendenciosamente individualista. Que amizades verdadeiras existem, que amores sinceros não estão perdidos, que casamentos podem durar a vida inteira, que filhos são bem tratados e amados pelos pais, que irmãos se amam e se respeitam, que podemos parar um tempo da nossa vida para ouvir e ajudar alguém com um problema bem maior que o nosso.






Da mesma forma que a maldade se encontra em toda parte, inundando a vida e a consciência das pessoas, eu acredito que existe algo ainda maior: acredite ou não você, leitor, em Deus – não posso nem quero impor minha crença a ninguém,  é inegável que existe uma energia positiva, uma capacidade a ser ativada, direcionada para o bem, que pode ser regada e cultivada em todas as pessoas humanas.

Pode, sim, estar coberta por anos e anos de sofrimento, de desilusões, de violência, desamor, escuridão.. 

Contudo, uma mão amiga, um apoio inesperado, um olhar caloroso, um sorriso generoso, uma palavra de consolo, um ouvido atento, um abraço apertado... são poderosos. 




Então, este texto não pretende ser conclusivo.



Contudo, resolvi compartilhar minha teimosia, na esperança de encontrar muitos outros teimosos. E dizer-lhes: não desistamos, nem do mundo, muito menos de nós mesmos.




23 de ago. de 2012

O que uma batida de carro e a sociedade tem em comum?



Semana passada, bati o carro. Fui a representante de um grupo grande de pessoas que passam naquele cruzamento na rua de casa, onde não tem preferência, e arriscam em cada uma das vezes colidir com outro carro, sempre imaginando que não vai acontecer. Dessa vez, não escapei.

Ainda bem, o motorista do outro carro era, literalmente, um motorista. O que permitiu que nos poucos segundos durante a batida, ele pudesse refletir, e desviar da porta dianteira do meu lado do carro, batendo um pouco mais atrás – o que me fez sair ilesa. A colisão foi forte, meu carro virou 45 graus e ainda deu tempo de colidir numa bicicleta encostada em uma das esquinas. O ciclista teve um arranhão e uma ronxa na perna, mas mesmo assim foi levado pela SAMU. 

Uma história que dos finais possíveis, teve um final feliz. Eu assumi a culpa, meu seguro vai cobrir os dois carros, e os galões de água da bicicleta – ele era entregador de água mineral.

Mas, fora o fato evidentemente cotidiano, o que eu percebi? Dessa vez como participante, aprendi que a confiança e o hábito, bem como as probabilidades de acidentes acontecerem, não podem ser usados como desculpa pra imprudência e irresponsabilidade. Coloco minha cara a tapa, assumindo um erro que cometi, pra refletir sobre a realidade dos acidentes de trânsito e o que eles podem nos ensinar a respeito da sociedade brasileira.

A primeira coisa que percebi foi que nunca sabemos o que esperar do outro, esse receio generalizado sobre a atitude alheia e como nos espelhamos nela pra reagir.

No momento em que desci do carro, esperava muitas reações do motorista e nenhuma delas veio, a não ser o receio estampado a respeito da minha atitude. Eu era a errada, a situação dependia de como eu lidaria com ela. Não assumindo o erro, um conjunto de discussões se iniciariam, tendo como palco participante toda a comunidade vizinha. Como eu assumi o erro, a postura do outro motorista se tornou relaxada e confiante - na medida do possível.  A partir de então, uma situação que tinha tudo pra ser extremamente desagradável conseguiu se tornar um convívio amigável entre estranhos metidos numa relação a qual não escolheram participar.

A segunda coisa que notei foi quão grande pode ser a curiosidade humana. 




Todos os porteiros, secretárias, e transeuntes de repente não tinham nada a fazer a não ser olhar o que estava acontecendo, e em muitos casos se meterem na situação. De repente, o acidente foi inundado com advogados frustrados, médicos de boteco e delegados sem patente. Diversos indivíduos queriam se meter na situação para resolver de alguma forma. Telefonando pra SAMU, oferecendo conforto e um copo de água, sendo agressivos, outros mais distantes zombando de toda e qualquer atitude dos envolvidos.



Dessa realidade vem a terceira coisa que aprendi, que uma comunidade recém – criada em um momento específico, contendo cerca 50 pessoas, reflete o comportamento de toda uma sociedade. Cada um dos personagens socialmente reconhecidos estava ali representado em algum dos envolvidos ou curiosos.




A quarta triste realidade foi quão decepcionante pode ser o serviço público quando precisamos dele, já que esperamos pela CTTU por duas horas antes de desistir e tentar a segunda opção: fazer um Boletim de Ocorrência na Delegacia. A SAMU chegou, 50 minutos depois, tempo suficiente para o ciclista ter tido uma parada cardíaca. Graças ao nosso bom Deus, os ferimentos foram leves.

Tem que ter paciência, melhor esperar sentado.

Dispensa legendas, né?
Do mesmo modo que uma multidão se ajuntou no instante em que o acidente ocorreu, dissipou-se 30 minutos depois. A partir do instante em que a situação se mostrou sem grandes conflitos, deixou de interessar. O barraco em potencial fica pra próxima, pensaram, cabisbaixos e retornando às suas atividades. Assim também acontece com os escândalos sociais e políticos, o interesse dura enquanto a confusão durar, e a atenção é maior onde o siri bater mais forte na lata. Depois? Que depois? Essa foi a quinta: uma sociedade que esquece rápido.


A sexta realidade, também decepcionante, percebi já na delegacia. Percebi o espanto do policial com a minha atitude, de não apenas ter assumido meu erro como também ter me disponibilizado para ir à delegacia fazer o BO. Pelo menos ela veio aqui, ele disse pro outro motorista. Fiquei pensando em quantas vezes e quantas pessoas sofrem acidentes de carro no trânsito, dos quais não são culpadas, não possuem condições de arcar com o prejuízo e tem a vida toda atrapalhada por uma irresponsabilidade que não foi sua. O espanto do policial muito evidencia a baixa porcentagem de pessoas que assumem o erro que cometem, em âmbito geral. - Uma sociedade acostumada à impunidade.




Aprendi também algumas pequenas lições, das quais merece menção o valor de um amigo do seu lado, apoiando e sendo um terreno conhecido no meio de uma situação desconhecida. E, definitivamente, aprendi que o melhor a fazer é mesmo optar pela direção – e atitude - defensiva, porque a sorte que eu tive de lidar com uma situação desagradável de forma positiva é definitivamente uma exceção.

E a sociedade insiste em reclamar dos grandes eventos, quando aqueles são muitas vezes apenas uma amplificação do que acontece diariamente, embaixo de seus próprios narizes.



22 de ago. de 2012

Um mais um = infinitum

Algumas vezes eu já parei pra pensar a respeito de pessoas do meu convívio com as quais não me dei bem, ou quando, pela experiência de outros, acontece a mesma coisa. 
Sobre aquelas pessoas que se denomina pejorativamente ou negativamente, com defeitos que vão desde comportamento até questões de caráter, ou aquelas que julgamos pelos erros que cometeram. 
Parei pra refletir sobre elas com mais cuidado quando, em um livro que fala da vida de Nelson Mandela, uma passagem trata do assunto. 

Esse é o livro.



No trecho, Mandela afirma que você não pode julgar um homem nem pela melhor coisa que ele fez na vida, nem pela pior. E que na verdade, para saber o caráter de alguém, você precisa ponderar toda a sua vida, o que só pode ser feito depois que ela tenha falecido. 
Essa afirmação ficou na minha cabeça.


Acredito que, da mesma forma que o caráter, muitas outras características não devem ser atribuídas a alguém que não conhecemos em absoluto, por uma experiência singular que tivemos com aquela pessoa. 
E daqui vem a continuação do meu pensamento, já que acredito que cada vez que duas pessoas se relacionam, o resultado nunca é o mesmo. Independe do tempo, da natureza e do objetivo da relação.





Por isso digo: um mais um como resultado o infinito. 





Porque, de uma relação entre duas ou mais pessoas, os envolvidos não vão sempre representar os mesmos papeis ou ocupar o mesmo lugar no contexto, tampouco participar da mesma forma ou agir do mesmo jeito. Mesmo que o caráter da relação seja o mesmo, e um dos envolvidos seja o mesmo, a dinâmica dois a dois (e ampliada, três ou mais), não é estática e a reprodução não depende da combinação mais do que da probabilidade de acontecerem naturalmente. 

As variantes são inúmeras, impossíveis de serem replicadas em condições naturais de forma a criar uma varíável independente confiável o suficiente para que se chegue a alguma conclusão, conceito estabelecido ou teoria validada e comprovada. 

O que estou sugerindo? Que, apesar das tentações, tipicamente humanas e em certo ponto reiteradas pela prática social, de tirar conclusões ou realizar previsões de comportamento, eu sugiro que as relações humanas são dotadas de uma beleza singular: são sempre exclusivas, descaracterizáveis e dinâmicas. 

E que cada uma das futuras pessoas que você venha a conhecer ou conviver com, pode (e possivelmente vai) te surpreender. 

8 de ago. de 2012

Puzzle


Costumo dizer que existem momentos em que viver demanda toda a dedicação, e a criatividade se direciona para essa ou aquela esfera do convívio. Porém, talvez hoje eu venha refutar a minha própria afirmação, porque percebi que quando tudo anda nos trilhos, ou da forma que sentimos que deveria estar, alguma coisa acontece com o tempo. Digo, sabemos que é mesmo um conceito relativo. Varia conforme não somente questões físicas, como de percepção, emoção e condições da própria natureza afetando nossa vida. Mas, além disso, posso afirmar com toda a certeza que, em certas ocasiões, a vida se transforma em um quebra-cabeças montado. 


Aquele momento em que você olha pra peça à sua frente e enxerga tudo no seu devido lugar. 



Parece, inclusive, que foi sempre assim, tamanha a sensação de realização e pertencimento, reconhecimento mascarado de gratidão, uma respiração profunda de alívio e orgulho. E, nesse momento, não somente as peças se completam como o tempo se ajusta. E de repente, o que era pouco, torna-se muito. Há uma amplificação do tempo e do espaço que não pode ser explicada senão pela concordância em desconhecer certas realidades que não nos cabem. 

Infelizmente, não podemos e não temos acesso a essas sensações com certa frequência, até porque é preciso o tempo de montar o quebra cabeças antes de alcançar o prêmio de vê-lo devidamente encaixado. Da mesma forma, essa sensação não dura para sempre, motivo pelo qual passamos longos períodos relembrando a última vez em que nos sentimos assim, esperando pela próxima. 

Estando você diante de um momento de contemplação da "obra-prima", ou em processo de realizá-la, a garantia irremediável é que ambos os momentos vão passar, e alternar-se. E um não existiria sem o outro. 

Desse dado, percebemos que assim como o tempo e as impressões que temos dele, acredito também que assim seja com a felicidade e o que entendemos por ela: processo e/ou conclusão. 


Como você a vê?





4 de mai. de 2012

Neither black nor white


Quem dera minha geração tivesse vivido nos tempos da televisão em preto e branco. 

Assim, talvez tivéssemos algum entendimento sobre esse mundo que de tão colorido, ofusca a visão e engana os sentidos. 

Mas nossos pais, nem eles, sabem dizer. 

Tentaram nos ensinar que decisões são A ou B, mas dificilmente lembraram de acrescentar que entre A e B existem variações e combinações, AB, a, b, AA, BB. Provavelmente não sabiam como explicar essa confusão de análise combinatória misturada com aula de genética humana, enquanto ainda éramos crianças brincando de boneca, pega pega, queimado, bola de gude e esconde esconde. 


Doces tempos, nostalgia eterna..



E então a gente cresce e a realidade se apresenta misturada, confusa e cheia de contrastes. A nossa primeira reação é a de buscar A e B, calma ou desesperadamente, a depender do medo que carregamos e do susto que tomamos. Busca fracassada, finalmente compreendemos que são bonitas teorias que reprovaram na prova da vida real. 

Nos pegamos diante de um mundo diferente, onde nem tudo é o que parece, e pior, mesmo parecendo, temos dificuldade de encaixar nessa ou aquela definição. Que estereótipos não definem e as surpresas surgem do mais inesperado ponto do caminho.   


E agora? Pra onde ir?

E que, ao contrário das histórias que ouvíamos deitados na cama, vendo personagens coloridos pintados em situações no papel, inocentemente delineando um caminho e seguindo por ele, enfrentado lobos maldosos pintados com um sorriso meio assustador, nem sempre sabemos o que fazer. E pode ser que, no meio do caminho que havíamos traçado, a decisão pelo mesmo venha a parecer insensata, burra e infantil, e nesse momento enfrentamos uma decepção interior, pelo castelo desenhado no nosso imaginário que se mostrou de areia, quando críamos ter sido feito de tijolos e com vigas bem colocadas. 






Por isso, talvez tenhamos que voltar tudo e mudar pra outra direção, e por mais que essa seja a decisão certa naquele momento - porque, novamente, podemos considerá-la errada em um futuro próximo ou distante, o arrependimento por não ter feito diferente vai ser um companheiro constante a partir dessa inversão de sentidos. Que inocente, que idiota, que imaturo! Xingamos nossos eus do passado com tanta convicção e furor que chegaríamos a duvidar se pudéssemos nos ver de fora.

Acredito que seja esse o motivo do Felizes para sempre nas histórias infantis. 

Porque em cada momento, um final feliz é possível, e o que pode nos fazer felizes hoje não necessariamente nos fará felizes amanha. 


Assim, se as historinhas fossem continuar mostrando o que vem depois do Happily ever after, elas nunca teriam fim.



Porque as vidas são vividas até o último suspiro, e nesse intervalo entre começo e fim, a constância é a mais vulnerável das ilusões









Mas não seríamos capazes de compreender conceito tão abstrato enquanto pequenos, enquanto criadores de mundos paralelos em que a realidade não cabia. Por isso, somente quando despertamos da infância conseguimos compreender quão relativo podem ser os conceitos começo, fim, felicidade, e, principalmente, eternidade.

Portanto, apreciemos renovadamente a grandeza das palavras de um talentoso, porém tambem efêmero, personagem da poesia brasileira, que foi feliz e sábio ao afirmar: 





Salve, Vinicius de Moraes!




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