28 de nov. de 2008

No meu caminho..

E você acorda, com a leve impressão de saber para onde ir.
Depois de levantar, as luzes começam a atrapalhar sua visão
O que lhe parecia nítido agora assemelha-se a um borrão
Um borrão amorfo. O que fazer para recuperar sua nitidez?
A certeza vai se deformando na mesma velocidade que os seus olhos perdem o foco
Agora não existe um foco. Existem múltiplos.
O saber para onde ir se transformou na angústia da incerteza
Um leve desespero se reflete na sua expressão quando você percebe o que está acontecendo
A nitidez perdida precisa ser encontrada.
Conseguir fazê-lo é desafiador.
No meio da confusão, aparecem figuras que trazem de onde não parecia existir, a esperança.
O que dizer delas? Quantas delas permanecem, indo de encontro à entropia envolvente?
Os fortes ou os fracos?
Na verdade, os que sabem o valor disso tudo.E o valor de amar..

27 de nov. de 2008

Inspiração vinda da literatura.

E há quem diga que na tristeza se vê cor
Mas o que se vê?
É na verdade o oposto!
No preto e no branco, que dupla!
Dupla de presentes, que lembram os ausentes.
Mas, na verdade, os ausentes estão escondidos..
Na física, o branco é a união de todas as cores.
O que dizer dos dias chuvosos?
A gota da chuva reflete, quando sim, uma fresta de azul, vermelho, amarelo.
Pequenas, quase imperceptíveis.
Mas na falta, a sensibilidade aflora.
Busca desesperadamente!
Qualquer pouco vira muito.
Então vemos cor?A cor nunca some!
É o tudo e tudo, de novo.
Contudo, só que só se vê quando se olha.
E quantos olham?
Quando a boca está aberta e os olhos brilham, ninguém olha. Passam direto!
E quando a boca se fecha, num murmúrio..O sal e água atravessam a face. Aí param.
Param e procuram a cor que sempre têm.
Mas não importa tê-la, ou importa?
Claro que importa!
“Quando eu quero que ela exista, ela precisa aparecer.”
Como se tudo fossem lápis que seguem as nossas mãos, passivos.
Admiráveis, aqueles para os quais cores são permanentes.
Porque elas o são.
E quem não as vê? Talvez não seja caso de médico.
Seja caso de respiração.."

O sublinhado surgiu sem querer, mas até tem um certo sentido, onde ficou.
Esse poema, escrevi semana passada, quando, ouvindo e pensando a poesia de Manuel Bandeira, senti que as coisas pequenas passam despercebidas, e às vezes é preciso que alguém o diga para que o percebam. Não que minhas palavras sejam altas e fortes o suficiente para alcançar pelo menos um terço dos que eu desejo, mas, atingindo alguém, nunca é em vão. Não posso exigir que abram-se os olhos os iludidos, nem que parem de respirar, os egoístas..
Mas as palavras são minhas, e nelas eu sempre posso confiar.

26 de nov. de 2008

Antes de uma primavera..

Há algum tempo eu achei tava preparada pro mundo..A verdade é que a gente nunca tá preparado o suficiente. As risadas compartilhadas, os conselhos guardados, o êxtase de uma conversa, a tristeza de um não. São sempre os mesmos. E como a relatividade é válida, sem que se aperceba disso. Diante do pequeno, somos grandes. Diante do grande, somos pequenos. E esse vai e vem perdurará até quando o sol não nascer mais.. Na verdade, os fatos são enxergados de acordo com a vontade do observador. Isso é estranho, mas bonito. Para um, a solução. Para outro, o motivo. Para um terceiro, a consequência. Sempre relativo.. As certezas, no meio dessa miscigenação de eventos, são quase tão incertas quanto definir o que elas podem vir a ser. Mudam com freqüencia. Primeiro, você muda. Depois, suas certezas mudam. Elas tendem a te acompanhar. A cada passo seu, em uma ou outra direção, elas são sua sombra. Um reflexo sem cor, sem texturas ou contrastes do que você é. Mas o contorno é o mesmo. Ou seja, quase iguais. Mas diferentes.. E nem sempre compreendem um ao outro. Às vezes a sua sombra é escura demais. Os contornos se perdem tão rapido, ao pôr-do-sol, que o tempo se mostra insuficiente pra que você chegue a uma conclusão. Principalmente no inverno. Quando o sol nasce depois e se pôe antes. Antes da primavera.. nenhuma certeza. Mas as certezas nunca são certas e firmes o suficiente. No máximo, você consegue que elas te acompanhem num passo mais ritmado, numa harmonia comedida. E quando isso acontece, você pode finalmente pegar os tambores e definir qual é o seu ritmo..

É só um registro de importância e com prazo de validade indefinido. A amizade algumas vezes passa, como um turista curioso e interessado, que aproveita tudo numa cidade e depois volta pro lugar de onde veio. Essas são as amizades que a gente costuma ter em maior número: algumas que passam um tempo insuficiente, outras passam tempo demais. E tem aquelas que são como a sua casa, o lugar pra onde você volta depois de uma viagem longa e cansativa..
Essas são de prazo indefinido. Como eles.

Sem título. E a liberdade precisa de definição?

Eu sempre prezei pela liberdade. De pensamento, de ação, de sentimentos e de vontades. Porque na verdade a liberdade é um dos valores mais desejados e ao mesmo tempo menos possuídos..que alma não se anima diante da possibilidade de fazer o que lhe convir? De não precisar dar satisfações nem desculpas para ninguém além da própria consciência? Mas começo a pensar que esse valor é tão utópico quanto impossível de concretude: o homem está naturalmente inclinado para pertencer a algo. E quando se pertence a alguém, não se pode ser livre por completo. São praticamente possibilidades opostas. É um dilema comum num mundo onde, sócio-politico-economicamente falando, preza-se pela liberdade de mercados. Mas uma liberdade sempre inspecionada pelo Estado. Pode-se dizer que é mais ou menos isso que acontece nos relacionamentos.. quaisquer que sejam. A sua liberdade vai até onde você não ultrapassa o limite do que vem a ser estar livre na sua solidão. Porque nunca se é livre, se não se é sozinho.. A solidão é uma virtude ainda mais bonita do que a de se ter amigos. Porque é-se amigo de si mesmo. Só que na verdade, ser sozinho o tempo todo consome uma energia que poderia ser direcionada para outras direções. Você não precisa de ninguém, mas sofre mais, muito mais. É uma questão de prioridades. Muitos buscam incansavelmente um amor e amigos como se vissem neles a solução para todos os problemas. Com isso eu não posso concordar. O outro é um alguém com tantos e talvez até mais problemas do que você. Portanto, a ilusão de perfeição e felicidade plena não condiz com a realidade dos fatos. O extremo oposto disso seriam os solitários orgulhosos e egocêntricos ao ponto de não enxergar a necessidade em ninguém além de si mesmo. E esses violam o princípio humano, profundo e intríseco, de ajudar. Ao menos ajudar os que se amam. Nada em excesso é saudável, muito menos bonito. Altruísmo e autismo, nenhum dos dois é pra mim digno de admiração. Na verdade, com tão pouca experiência e pensamentos em quantidades inversamente proporcionais a ela, eu já me convenci de que o ideal humano de felicidade seria o equilíbrio.. Quantos poetas já não cantaram que se não há tristeza, não há felicidade? Que sem sofrimento, não há aprendizado? Que sem entrega, não se sofre; mas também não se vive intensamente? Tenho uma frase anotada no celular que carrego sempre comigo.. “A única prisão real é o medo. E a única liberdade real é a liberdade de não ter medo”. A ganhadora do prêmio Nobel da paz em 1991 escreveu isso. E o que enxergar nessas palavras, senão uma verdade quase absoluta? A minha inclinação para evitar julgamentos, prezar pela vontade própria e pelas atitudes baseadas em sentimentos reais, ou surreais, eu descobri que vêm dessa impossibilidade que o medo causa nas pessoas. E eu incluo a mim. É um receio tão forte e poderoso, uma inclinação quase que imantada para seguir na direção oposta.. Muitos dizem que isso é uma forma de se proteger. Pois bem, concordo que possa ser. Mas o que se conhece do mundo se vive-se dentro de uma fortaleza? É uma liberdade apriosionada, limitada, que, como todas as variantes dessa, tem seus prós e contras. É necessário que se pense em qual tipo de liberdade estamos investindo nossos sonhos, aspirações, defesas e medos. Tudo pode depender de um acerto nesse ponto. Cada um tem a possibilidade de recriar uma liberdade pessoal e única. Seguindo, contudo, algumas regras que eu chamaria de consideração a respeito dos outros. Imaginar uma vida livre e desimpedida é uma postura quase tão egoísta quanto egocêntrica. A necessidade de sociabilidade do homem é inegável! Pense em si numa ilha deserta e em quão louco você se tornaria depois de um tempo. Porque pra nós não há outra possibilidade senão a de compartilhar: momentos, tristezas, alegrias, vitórias, derrotas, fins e começos, recomeços, medos e sonhos. E porque insistimos em fugir dessa condição? Em afirmar e reafirmar que somos independentes o tempo todo, e assim queremos permanecer para toda a vida? Eu concordo que a solidão, como eu já falei, é uma virtude. Mas a variedade não pode ser considerada como um problema. Precisamos estar sós, acompanhados, caminhar juntos, e sozinhos. Nunca somente sozinhos, nem tampouco somente acompanhados. Qualquer exagero é medo. Medo de se enfrentar, medo de ceder. Já possuímos a liberdade de pensar. E, até certo ponto, também a de agir. O que me incomoda nesse desejo de liberdade humana é que, por mais egoísta que se seja, e um pouco de egoísmo é tão importante quanto qualquer outro sentimento, nunca se deixa de ser hipócrita. Porque ser tão incongruente? Porque prezar por uma coisa, e agir em virtude de outra? O uso que fazemos das liberdades que possuímos, ouso dizer que ele não é nada admirável. A gente tem o poder de escolher a felicidade, não aquela romântica e anti-real, mas a felicidade que se baseia em equilíbrio e congruência entre sentimentos e atitudes. E porque não fazê-lo? Um psicólogo, Heidegger, disse que o homem sempre esteve muito ocupado seguindo o fluxo, e esqueceu de pensar em si. Pois bem, eu concordo com ele, e acrescento que todo sentimento é valido, contanto que ele tenha um motivo, um porquê e uma direção. Mesmo o medo, cuja direção é ser entendido, aceito, e superado. Tudo quando parecer certo, porque nesse ponto nada melhor do que o nosso coração para entender nossas necessidades..

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