20 de nov. de 2011

Old thoughts, but still.



Já tentei me lembrar de quando, exatamente, eu comecei a escrever. E como foi o processo de “aprendizado”, adaptação e tudo o mais. 

Eu não me refiro ao ato de escrever como alfabetização, e sim ao momento que eu sentei e escrevi pela primeira vez meus pensamentos e percebi o quanto se pode fazer com um pedaço de papel..

Hoje em dia, quando alguém lê o que escrevo, acho engraçado receber os elogios. Na maioria das vezes, eu olho o que eu escrevi e penso: que texto fantástico. Esqueço que fui eu quem escreveu. 



Acho que aqueles que escrevem vão concordar comigo quando eu digo que escrever é uma atitude que vem de dentro pra fora. Não adianta que você me peça pra escrever sobre uma coisa, se eu não estiver disposta a fazê-lo. Por mais opiniões, idéias e pensamentos que eu tenha, eles vão travar. Claro, algumas vezes o meio consegue esse feito, de arrancar de nós, mas nunca sem a nossa permissão.. ah, é uma luta entre razão e emoção que desde cedo nós aprendemos a equilibrar. 

Não sei quando, nem como eu comecei. 

Mas se alguém me perguntar o porquê, eu sorrirei e responderei com o maior prazer, com poucas ou muitas palavras, os meus motivos. Na verdade não é um só. São muitos. 
Eu sempre gostei de ler.. o que eu mais gosto na leitura é que ela desperta a minha criatividade, porque aquilo que eu leio certamente um dia aparecerá nas minhas palavras, se for de alguma importância para mim. 
E porque escrever? Eu penso que cada um tem o seu próprio modo de enxergar as coisas, e que isso é um espelho para o que você vem a expressar. Em atitudes, sentimentos, palavras. 
Já escrevi e dissertei oralmente sobre diversos assuntos, e essa é uma das atividades em que eu sinto mais prazer; me deparei com opiniões contrárias às minhas inúmeras vezes. 
O que eu acho prazeroso nessa diversidade de mentalidades é que dela e nela podemos fazer amigos, bem como inimigos, e podemos passar do ódio ao amor, ou, ao contrário, do amor ao ódio.

Antes fosse somente na hora da pizza que houvesse discussão..


Não há nada que una e separe mais as pessoas do que a filosofia. Como filosofia entenda a arte de contestar, pensar e discutir. É o que podemos chamar de “liberdades de pensamento” diferentes. Porque na verdade, não há liberdade completa. 
Mas, ao mesmo tempo, os contrastes são tantos, que muitos se abstêm de adentrar nesse universo. E preferem manter-se numa posição em que as nuvens de pensamento adquirem a mesma cor, mesma textura, mesma “amorfidade”. 

Se você é uma dessas pessoas, me desculpe, mas eu preciso dizer: “Acorde!”. 

Aceitar passivamente tudo o que lhe é oferecido é covardia, irresponsabilidade, desperdício. 
Você pode argumentar, e com razão, que mesmo aqueles que pensam e fogem dessa inércia não seguem tudo aquilo que acreditam, pregam, sentem e desejam. Mas, como poderíamos? A nossa vida não depende somente de nós mesmos. 
Estamos inseridos numa sociedade, um agrupamento de indivíduos, e não podemos simplesmente ir contra o pensamento uns dos outros. É uma atitude impossível de realização. 
O caos, decerto, seria a palavra de ordem se isso acontecesse. 
Não que não aconteça, afinal cada um é livre para fazer o que bem entender, e muitos não seguem o conjunto de leis criadas pra controlar e organizar a entropia tendenciosa da convivência humana. Ainda assim, não é o lugar-comum. Ainda bem. Mas pensar e nem sempre agir conforme o que se pensa não é hipocrisia! Simplesmente faz-se o possível. 

"Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma compreensão sobre nós mesmos." (Carl Gustav Jung)

Cada um anda e respira dentro do seu “metro quadrado”. Mas dentro desse, as possibilidades são infinitas. E o que me perturba é especificamente o ato de desconhecê-las. Porque elas existem. 
Mas eu não posso chegar para você e dizer: é isso, aquilo e mais isso. Engula! 
Por isso eu escrevo. Eu tento, com os meus pensamentos, despertar nas pessoas o que já está muito acordado em mim. 
Todos temos a semente. Mas nada cresce sem ser cultivado.. eu dou a luz, mas a água, cabe a você dá-la..


3 de out. de 2011

Nossos antepassados estavam errados?

Todos que escrevem tiram inspiração de algum lugar. Dos amigos, das noites de conversa, dos relacionamentos, da televisão, de filmes, da vida alheia ou da própria. 
A mim, inspiram todos os citados. Porém, as palavras sobre este ou aquele saem mais coordenadas quando escrevo fisicamente cansada. Inebria-me o cansaço. E dele retiro palavras e coordeno pensamentos, sobre os quais em pleno vapor não tenho controle.

Hoje, inebriada como estou, venho escrever sobre uma teoria que ousei confabular ultimamente. 

Não procurei saber se existe algo ou alguém que fale, como aqui vos falo, porque pra mim o conhecimento amplia o saber, mas limita de certa forma a criatividade. Sim, a mente criativa precisa ser livre, sem restrições e regras a obedecer!


Venho falar do preconceito. Não para julgar ou dizer-lhes sobre certo e errado, ou sobre condutas aceitáveis, nem para pregação qualquer. 
Parando pra pensar, percebi que existe uma diferença interessante sobre onde e como o preconceito se manifesta hoje, do que ele era antigamente. Por antigamente, me refiro à épocas anteriores à Revolução Industrial, à globalização e a toda essa gama de compartilhamentos e divisões que presenciamos hoje.


Luis XIV, rei sol francês 
Cena onde Luis XIV dança com sua noiva austríaca, Maria Antonieta, cujo nome entitula o filme

Sim, na época em que havia reis em quantidade significativa, onde as pessoas matavam usando espadas, traição era motivo de enforcamento, as guerras tinham propósitos que podiam não ser nobres, mas cujos guerreiros acreditavam e honravam com a vida. Onde os casamentos deveriam ser para sempre, filhos viviam sob olhar atento e cuidadoso dos pais, e recebiam ensinamentos na mesa de refeições - tanto mais cedo, melhor. Meninos de 16 anos eram guerreiros, e meninas da mesma idade eram esposas. Temia-se uma infecção como se teme hoje a AIDS, a morte era uma sombra que acompanhava todos a todo momento, e os amores eram intensos e quentes. Havia adultério, venerava-se o sexo e a bebida depois de uma batalha, as mulheres tinham menos direitos e deveriam servir aos maridos. Uma época em que uma conduta deveria ser seguida, sem questionamentos, e revoltosos eram punidos, também sem questionamentos. Tempos sobre os quais se faz necessário ler a respeito, e ver filmes que nos façam crer no que vemos, onde os valores como a honra e o respeito eram fortes e soberanos, e um rei não era questionado. Decerto, tempos imperfeitos.. 




Mas, relembrando a mensagem do filme de Woody Allen, Meia noite em Paris, os tempos nunca são perfeitos. Verdadeira a afirmação, que os personagens do filme vivem em nostalgia otimista, com recheio de realidade pessimista. Perfeito, somente aquilo que não podemos possuir e não nos cabe.
Pois bem, nessa época sombria da qual os livros resumem a guerras e (r)evolução, já havia preconceito. Um preconceito escancarado, quase sinônimo de hipocrisia, visto que quase nenhum desvio de conduta era aceito, pelo menos oficialmente. Por ser tão simples o caminho certo a se seguir, pode-se pensar quão honrosos e honestos foram os nossos antepassados.. a armadilha da nostalgia. Sem me ater a elogios ou críticas, ouso afirmar que, bons ou ruins, eles eram mestres em uma coisa: ouvir seus desejos, seu coração, seus instintos e sua própria expêriencia. Por isso, esposas desonravam maridos, amigos matavam-se em batalha, irmãos depunham pais do trono, variações do que se vê hoje, e do que se vê em qualquer tempo. O que mudava, era o tal do preconceito. 

Quase tudo concebido como regra, um desvio era erro terrível. Ficava fácil cometer um destes erros, enquadrando-se assim no grupo dos errantes, e talvez até pecadores. Citei apenas poucos erros, mas existem muitos outros. Porém, nessa sociedade onde muito se proibia, as pessoas que quebravam as regras (na surdina) sentiam-se menos culpadas, menos psicologicamente afetadas, em suma, eram bem resolvidas. Sabiam o que queriam e faziam como queriam. Suas vontades eram atendidas, e o preconceito era parte integrante, oxigênio que todos respiravam, mas com a diferença de ser externo a eles. Rondava a todos, mas não era uma praga tal como a gripe espanhola. Absorviam culpa ou reprimiam intenções, apenas os que queriam, de resto, sabiam agir e responder por seus atos. Se não de espontânea vontade, de uma forma ou de outra, vinham a pagar por eles.

Hoje, o que mudou? O preconceito que circulava nos ares da sociedade, inebriando a um ou outro pelo caminho, entrou na cabeça de todos. Assim, não se assemelha mais a uma droga, cujo efeito pode ser forte, talvez irreversível, porem em sua maioria, temporário. 
Não, nada de temporariedade, o pre-conceito, os julgamentos de valor, a incompreensão e variações destes passaram a ocupar grande parte do pensamento da sociedade contemporânea. Ou, como diria Zigmunt Bauman, da Modernidade Líquida. Como tudo que não tem forma, nem cor, e muda constantemente para se adaptar, os descendentes daqueles antepassados apegaram-se ao que lhes é externo, sem saber (nem perceber) que não conseguirão fugir do que os assombra: o medo de ser julgado, a vontade de julgar, a vergonha de assumir seus desejos, suas vontades, de seguir seus instintos, a falta de coragem de enfrentar as consequências de seus atos, todos esses fantasmas estão infiltrados no imaginário da humanidade ocidental. Tal como o inconsciente coletivo de Jung, atormentam e impedem que possam ser originalmente felizes, ainda que sob risco de comportamentos inadequados. 

O que eu quero dizer, aonde eu quero chegar? Na ideia de que o que antes era exterior, e por isso controlável, tornou-se interior a (quase) todos.. Portanto, a concepção de fugir dessa epidemia de preconceitos tornou-se dado, desafiador e ato de coragem dos que o fazem. Seguir a maré hoje, apesar das liberdades conquistadas, virou regra mais imponente do que quando não se tinha tanta opção de escolha. 
Constatação contraditória, como tantas outras, e pelo menos aqui, sem intenção nenhuma a não ser a de despertar a reflexão.

Dizemo-nos mensageiros do novo mundo, um mundo de iguais e livres, felizes plenos e saciados nos desejos terrenos. Uma Utopia digna de Thomas Morus, e talvez mais hipócrita do que nos tempos em que as pessoas sabiam-se diferentes, infelizes, tinham medos maiores e morriam do que hoje deixa-nos de cama por dois dias.. 



30 de set. de 2011

Saudosidades - Última parte



Parou na lembrança de seu penúltimo aniversário, quando completara 25 anos. “Eu tinha ido trabalhar somente pela manhã, planejava encontrar meu namorado para o almoço e dali iríamos para a casa de uns amigos na serra, comemorar no fim de semana. Lembro de como estava frio e como o clima estava agradável na viagem, e de como eu tinha achado estranho aquela quantidade de carros estacionada no condomínio, para uma noite de sexta-feira, num final de semana comum. E como de repente saíram pessoas de todos os lados, assim que desci do carro, gritando surpresa e me abraçando, era minha primeira festa surpresa. Mas a maior delas viria no final da noite, quando inesperadamente meu namorado na época me pediu em casamento. A única lembrança que tenho foi que chorei e balancei positivamente a cabeça, um dos poucos momentos na vida em que perdi a fala..”
Abriu os olhos e viu que já havia escurecido. Levantou-se, foi comer alguma coisa e deitar-se. O dia seguinte prometia ser cheio.
Seis horas da manhã, sabia que o primeiro convidado chegaria logo. Um a um, diversos carros foram chegando, de amigos que iriam ficar hospedados na sua casa ou em algum hotel próximo, todos aqueles que haviam povoado suas lembranças do dia anterior. Seus pais, amigos de infância, de faculdade, familiares, ao final da tarde todos já haviam chegado. Estava se arrumando no quarto, sua mãe estava no quarto ao seu lado, conversando sobre trivialidades. Quando ficou pronta, saiu do quarto e viu que ele estava a sua espera. Sorriam um pro outro, abraçaram-se enquanto ele dizia em seu ouvido: está pronta para sua última noite de solteira?
O jantar estava na mesa e todos estavam esperando que os dois descessem. Não conseguia conter a alegria de ter conseguido reunir tantas pessoas especiais para ela e seu noivo, e de saber que casaria assim que o sol nascesse. Quando o jantar terminou, ela se levantou e pediu pra falar:
            - Hoje eu vou falar, ao contrário do dia do nosso noivado. Mas vou ser breve, porque não quero perder um minuto a mais da companhia de todos vocês, aqui presentes. Então, além de agradecer por terem vindo, quero agradecer por terem feito e ainda estarem fazendo parte da minha, da nossa vida. Amanhã vou me casar e dividir a vida com o homem que eu escolhi, e a alegria que isso me traz só não ganha de uma. A de ver todos vocês e poder olhar pra trás, as lembranças que temos, e também imaginar que teremos muitas outras. Querido, me desculpe, mas a verdade é que, a partir de amanhã você vai ter um grande pedaço do meu amor, mas vai ter que se acostumar a dividi-lo com todas as outras pessoas da minha vida. Eu não seria nada se qualquer um de vocês estivesse faltando. Obrigada!
Foto: Maíra Erlich  

         

9 de set. de 2011

Saudosidades - Parte 3



Outra festa, estava deslumbrante e radiante, distribuindo alegria e obrigadas ao ouvir os elogios quando passava. Era a sua formatura na faculdade, finalmente. “Fiz questão de tirar uma foto com cada um deles, ouvir o que tinham a dizer, fazer novos planos e brindar à antigas e futuras conquistas, abraçar meus pais e familiares que estavam presentes, e agradecer a todos pelo apoio e por terem acreditado em mim. Poucos momentos na vida são mais emocionantes do que o fim de um sonho, porque dão espaço para o surgimento de outros - foi assim que terminei o meu discurso de oradora da turma. Fui aplaudida pelos meus professores, os já antigos colegas de faculdade, e todos que estavam presentes.”
Respirou fundo depois dessa última recordação. Olhos marejados de lágrimas, pensou em dar uma pausa e mergulhar no mar. A água gelada acalmaria seus pensamentos e as batidas de seu coração, o mar transportaria para seu corpo a calma que emitia, e aos poucos foi ficando mais leve. Olhou pra cima e deixou que o sol queimasse seu rosto, agora sem protetor solar como usava na infância, e sorriu sentindo-se completa e tranqüila. Olhou à sua volta para confirmar que estava sozinha, mas tão acompanhada de memórias e sensações que parecia estar rodeada por todos os quais lembrava. Em breve estarei, pensou. Saiu do mar, sentindo aquele cheiro de sal de sua infância, mas dessa vez não se encaminhou para um chuveiro. Continuou sentindo aquele cheiro e percebendo como grandes lembranças suas estavam associadas ao sol, ao mar, ao verão.
Viu-se primeiro em uma praia familiar, onde havia passado um carnaval rodeada de amigos, ainda jovens e acompanhados de sentimentos de cumplicidade, reciprocidade, amizade.. 


Foram confidências sinceras, brigas genuínas, raivas descontroladas e brincadeiras inconseqüentes, envolvidos em uma ausência de medo, vergonhas, julgamentos e intolerâncias, onde cada um pudera revelar-se a si mesmo, para si e para os outros, e de onde cada um saiu com a certeza de que raras seriam as chances de repetir a experiência, permitindo-se uma confiança cega e uma compreensão desmedida. Outros momentos como esse vieram à cabeça, com amigos de outras épocas, de diversos lugares e momentos, os quais pareciam ser eternos enquanto vividos..
Perdeu-se em lembranças desses pedaços de memórias, lembrou das fotos tiradas e das noites mal dormidas, das bebedeiras e das ressacas incuráveis, dos arranhões e quedas, das dores de garganta e febres, das inúmeras piadas contadas e que se perderam, das brincadeiras de criança que se transformaram em diversões de adultos, dos filmes assistidos e das historias inventadas, as viagens planejadas que davam certo ou nem tanto, os sonhos abandonados no meio do caminho..
Lembrou de seus pais e de como ouviam cada um de seus sonhos como se fosse o primeiro, e de como eram pacientes por ouvir, ouvir, ouvir.. E de quantas vezes tinha chorado, por qualquer motivo que fosse. Mas entre todos, o mais presente dos motivos havia sido o coração partido. Quantas vezes? Do primeiro beijo ao último que havia dado, perdera as contas dos amores e desamores que teve, correu pelos seus olhos a imagem de alguns deles, tão diferentes e distantes que lhe pareciam, alguns já não lembrava..

7 de set. de 2011

Take your time




Algumas horas mudam seu destino por completo. Ontem você viajaria para passar um tempo fora, hoje você vai ficar com sua família enquanto faz planos de virada de ano. Amanhã você começa num emprego novo, depois de uma semana aparece uma promoção pra conhecer aquele lugar que você sempre quis. Não existem certezas que durem mais do que alguns segundos, e quando existem, é porque foram renovadas. E você pode sentir o que quiser, não vai ser capaz de alterar essa (in)felicidade.


A cada batida do relógio, a cada nova sombra e reflexo no mar, o que era pra ser, se torna passado precoce, e o que foi se torna uma memória distante. Ou vice e versa, ou ambos. O ponto de partida pra olhar essa cartela de possibilidades é ter em mente que a sua cor preferida também pode deixar de ser azul. E um dia o verde vai lhe parecer tão certo quanto sua vontade de ser astronauta na infância. Digo isso porque ando reparando nos caminhos, meus e de outros, os que tomei, tomaram no meu lugar, tomamos juntos ou separamo-nos por escolhas que nos parecem certas.






Não sei se você já viu Fringe, um seriado de ficção científica que eu particularmente adoro. Nele, um cientista com um QI próximo de 200, que ficou internado no sanatório por 17 anos de sua vida, passa a ajudar o FBI a resolver casos cheios de coisas fantásticas, associados ao que ficou chamado de o Padrão. Aparentemente um grupo chamado ZFT| pretende usar a tecnologia pra levar o mundo ao fim como se conhece, nisso se misturam vírus da gripe gigantes, mutações genéticas, alterações cerebrais, catalizadores de crescimento de tecidos cutâneos, enfim. Em alguns episódios, o cientista cujo nome é Walter Bishop, explica a uma agente do FBI, Olivia Dunham, sobre os universos paralelos. E ele explica que, do mesmo modo que nosso mundo tal como conhecemos e se nos apresenta, existem outros, nos quais um alguém muito semelhante a nós mesmos vive, também, mas baseado em outras escolhas que tomamos. Associado a esse evento, está o conhecido Dèja Vu, que segundo ele nada mais é do que um flash do que vivemos em outra realidade, que se confunde com a nossa por alguns segundos nos quais compartilhamos algum pedaço de consciência. Já imaginou se isso acontecesse com todo mundo? Se fosse uma capacidade acessível? Como comprar uma TV nova? Existem muitos mistérios que, por mais que sejam resolvidos, nunca chegarão ao nosso conhecimento. Por isso, não duvido daquilo que não conheço. Em breve o homem vai poder visitar a Lua, digirir carros voadores e sabe-se o quê mais neste século.



Penso como as pessoas viveriam se tivesse a oportunidade de saber o fim de suas escolhas, a que cada uma delas levaria. Seria mais fácil decidir, e provavelmente por esse motivo não temos acesso a essa informação. Quem quiser viver, que fique prevenido que o caminho é sinuoso. Já nascemos chorando, será que não existe alguma simbologia nesse ato? 

Qual caminho você escolheu, e qual você escolheria se soubesse o que está no fim?

Não sou muito fã da psicanálise como já fui enquanto estudante de psicologia, mas Freud tem uma frase que me faz continuar admirando sua inteligência, despite all his limitations. Ele diz algo como a vida ser um conjunto de pequenas felicidades. Vivemos em busca delas. Afinal, que vida chata seria aquela onde todo mundo ri em uníssono, initerruptamente, não? Mesmice nunca é boa, mesmo sendo boa, né?

O que eu sei é que se existe um sentimento que muitos compartilham, e faz parte daquela numerosa lista de fragilidades que são escondidas atrás de uma porta sem graça, muito bem trancada e cuja chave fica pendurada no pescoço do dono, é a insegurança, o medo do desconhecido, e principalmente, o receio diante das escolhas. Muitos só abrem a porta a partir do momento que tomam uma decisão, e nesse momento esvaem-se todos os pensamentos negativos e degenerativos, afinal, resolveu-se a questão do desconhecido! Pode abrir tudo, não há mais nada a temer.


Ledo engano, meus caros. O desconhecido não é o palhaço que você tinha medo quando criança, nem a montanha russa que você jurou nunca andar e viu quão boba era depois que sentou nela pela primeira vez. Ele é um vírus. Tal como o HIV, transforma-se constantemente, sofre mutações consecutivas cujo objetivo é o de não conseguir ser compreendido. Sem compreensão, não há cura. Exatamente por isso, o máximo que se pode conseguir diante dele é um coquetel que diminua seu avanço ou desagrave suas consequências, tal como o AZT. Percebe?



     Por isso, uma coisa que os pais não costumam dizer pros filhos, quando crianças, é que o hapily ever after dos filmes não bate com a prática. Melhor seria o to be continued, afinal nada termina antes que termine de uma vez por todas. No nosso caso, começo e fim compartilham uma função fisiológica comum: respirar. Sim, há milhares de variações, mas convergem no fato de ser o mesmo resultado para todos. Entre os dois pontos dessa linha do tempo, não há felicidade permanente nem nada sequer que dure, porque nem mesmo tal linha consegue ser reta, sem dobradiças, quebras de espaço ou negrito aqui e acolá.

    Com tantas incertezas, a certeza da inconstância esperava ser bem recebida. Pena que apegamo-nos a pequenos pedaços do que vivemos, e agimos mais uma vez como se fosse nosso primeiro ursinho de pelúcia ou carrinho de brinquedo. Talvez a filosofia do desapego queira, por fim, libertar as pessoas para que vivam temendo as coisas certas, ou não temendo coisa alguma.

      Movimentos à parte, o meu humilde ensinamento de hoje é inspirado em palavras de um amigo querido. Inquieta como sou, usei o que me disse pra causar uma revolução: peguei a chave e abri a porta, mas ainda não tomei nenhuma decisão. Afinal, se é pra viver de verdade e a chance é única, que seja com medo, insegura, acostumada à inconstância e compartilhando meus ursos e sorvetes. É um risco, me dá frio na barriga como se eu tivesse prestes a pular de bungee jump numa altura de 500 metros. Contudo, posso garantir que a minha casa está mais iluminada, porque agora todas as janelas estão abertas, o vento pode circular e o sol bate forte, refletindo no chão de madeira as sombras daquela porta outrora fechada, avisando que mais um dia vai começar.

2 de set. de 2011

Saudosidades - Parte 2


"Eu tinha acordado ansiosa, era meu primeiro dia de aulas na turma da manhã. Minhas amigas também iam mudar junto comigo, mas mesmo assim me tremia da cabeça aos pés quando entrei no chuveiro, apesar da água quente. Troquei de roupa e coloquei a farda nova, a barriga fazia reviravoltas. Desisti da ideia de comer qualquer coisa que fosse, queria chegar logo e olhar logo pros meus novos coleguinhas de sala. Botei os pés no colégio, que eu já conhecia, mas parecia estar vendo pela primeira vez. Fui andando rápido porque não aguentava a ideia de esperar mais um minuto sequer. Subi as escadas distraída, olhando para baixo, envergonhada e assustada, inquieta. Pelo menos sabia que minhas amigas deviam ter me ligado e estariam a minha espera na sala, algo conhecido pra eu me apoiar. Lembro que eu tinha 9 anos, e enfrentar pessoas desconhecidas era uma ideia tão assustadora, hoje sinto vontade de rir. Não precisei procurar muito pela sala, porque sabia onde era. Fui em direção a ela olhando pra cima somente pra evitar bater em algo ou alguém, e foi em uma dessas vezes que eu levantei os olhos e não consegui mais abaixar. Ele tinha olhado de relance pra mim, sorriu de uma orelha a outra e entrou em uma das salas. Fui andando devagar com o meu coração batendo forte, até perceber que aquela seria a minha sala, também. Olhei dentro da sala em busca, não mais das minhas amigas, mas daquele menino que havia visto há pouco. Lá estava ele, rodeado de mais alguns meninos, soltando brincadeiras e despertando gargalhadas. Das brincadeiras eu já esqueci, mas do sorriso lembro até hoje.."


De repente se viu em outro lugar, alguns anos dali. Tinha 12 anos agora e estava em uma festa, em outra cidade, visitando parentes.
`O nome dele era Vinicius, eu o havia conhecido há apenas quinze dias. Estava passando férias e fui apresentada a ele por uma de minhas primas. Ele era alto, magro, queimado de sol, cabelo arrumadinho de cdf e agia como se fosse um príncipe a ser descoberto, um daqueles que tinha sido tirado do trono quando criança. Era educado e atencioso, charmoso e envolvente, eu simplesmente perdi o fôlego quando o vi pela primeira vez. Desde então, eu passei todas as noites seguintes com uma foto dele por perto, que eu olhava sempre antes de dormir, enquanto ouvia Kiss Me. Minha amiga já não aguentava mais ver me pagando aquele papelão, me chamava de abestalhada apaixonada, mas deitava na cama e cantava comigo, duas adolescentes sonhadoras que nunca tinham beijado ninguém. Naquela noite da festa, eu havia me arrumado cuidadosamente porque sabia que iria vê-lo, e estava nervosa somente por essa perspectiva. Não demorou para que nos encontrássemos - a essa altura todo mundo já sabia da minha queda por ele – e um amigo chegasse pra ele dizendo: Vinicius, olha só quem esta aqui. Ele veio na minha direção andando devagar, eu me senti como se tivesse em um daqueles filmes em câmera lenta, aquele sorriso direcionado a mim, não sabia se sorria ou se ficava quieta, ou tentava me acalmar, ou não fazia nada. A próxima coisa que eu lembro, uma sensação de estar flutuando, imagens de nuvens no ceu apresentavam-se diante de meus olhos fechados, meu coração quase saindo pela boca e uma paz interior tão grande que não combinava com meu estado de êxtase. Quando abri os olhos, olhei pros dele na tentativa de guardá-los na memória, tão próximos que estavam de mim, e sorri."

26 de ago. de 2011

Sessão Contos


Escrevi esse conto com uma finalidade, mas acabei deixando passar a mesma. Mesmo assim, resolvi compartilhar, inaugurando a sessão contos aqui no blog.
Como ele é grande, vou fazê-lo em partes..



Saudosidades - Parte 1
Era uma manhã clara, sem vento, e o sol estava forte. Levantei preguiçosa, abri a porta do quarto e fui olhar o mar. Sorri pensando no dia anterior, quando tinha ido à praia com minha família pela última vez naquelas férias. Adorava o verão, principalmente nas férias de janeiro. 
"Todo ano íamos para a casa de praia, e eu me perdia nos dias ensolarados, tomando banho de mar e ficando com aquele cheiro salgado, que me agoniava, e me fazia ter vontade de um banho no chuveiro. O cheiro do protetor solar, as brincadeiras na areia com meus coleguinhas da escola, os dias em que eu era uma pirata ou uma princesa. Os dias em que eu corria desesperada, com medo que meu colega me alcançasse e dissesse: te peguei! Odiava brincar de esconde esconde e pega pega. Morria de medo de ser pega e ficava tão ansiosa que preferia ser a pessoa que ia procurar pelos outros, a me esconder. A tensão era enorme, a agonia de ser descoberta e perder toda a graça.
Lembro dos dias em que ia com minha mãe na minha barraca de praia favorita, era pequena, comparo hoje ao tamanho de um contêiner, e toda amarela. Tinha o nome pintado de tinta marrom, e ficava numa esquina onde a rua encontrava a praia,
uma das ruas sem saída da praia da minha infância. 
Sorria pensando no peixe frito que eu comia todas as vezes que ia nesse lugar,e sabendo também que as ondas do mar estariam ali, me esperando. Ficava a poucos metros da minha casa, podíamos ir andando. Porque as ondas perto da minha casa eram muito fortes e o mar era muito perigoso para uma menina tão pequena como eu, e por isso minha mãe inventou o peixe frito na barraca mais na frente. O mar por lá era mais calmo e eu podia brincar de flutuar nas ondas, com minhas amigas de prédio, que sempre iam comigo. Ou então com minha mãe, ou com meus tios..
Meu pai nunca ia pra praia, não podia tomar sol. Ficava em casa esperando a gente voltar, tomando uma pinga com os amigos, fazendo aquele churrasco cheiroso, ou então comendo caranguejo. Eu adorava comer caranguejo, especialmente porque eu nunca precisava ter todo o trabalho de quebrar as patinhas, meus pais faziam isso por mim,e me davam o melhor pedaço, aquela pata grande, super gostosa, que eu comia numa dentada e saía toda feliz, correndo e pulando pela casa pra brincar de novo."
Sorriu ao terminar de escrever essas lembranças, tão frescas que se apresentaram, mesmo que houvessem sido há tanto tempo. Estava acordando quando olhou pro ceu e lembrou daquele último dia de férias, há alguns verões atrás.
Duas décadas, para ser exata. Levantou e foi tomar café.
"O café estava amargo quando dei o primeiro gole. Peguei o adoçante e pus mais algumas gotas, enquanto eles falavam sobre os planos de futuro de cada um. Estava sentada com alguns de meus amigos, na casa de um deles, em uma daquelas noites do fim de semana que ninguém quer sair, ninguém quer festa, mas todo mundo quer companhia. Não nos víamos como antes, quando éramos todos do mesmo colégio, e agora as reuniões eram escassas, quase ausentes. Compartilháramos sonhos e sufocos, momentos de angústia, estudamos juntos por muitas madrugadas, e todas essas estórias que ficam intocadas eram sempre lembradas, de uma forma ou de outra. Fiquei sentada tomando meu café paulatinamente, observando e escutando quando dizíamos quais os nossos maiores medos e desejos, agora jovens adultos. As risadas eram tão coordenadas, e a cumplicidade
tão ritmada, que esquecemos do que estava ao nosso redor. Voltamos ao tempo quando já era manhã, e o sol entrava pela janela."
Estava acordada há uma hora e não conseguia parar de lembrar, ao acaso. Sabia que isso iria acontecer, conhecia a si mesma, essa nostalgia saudosa era inevitável diante das circunstâncias.
Havia contudo esquecido quando tinha sido a última vez que tinha dado vazão a seus pensamentos, para que corressem descompassados e desordenados, fossem a lugares não programados, trouxessem à tona medos e saudades de que não lembrava ou ousava recordar.
Deixou a ideia da ausência percorrer seu corpo, respirou fundo e decidiu que hoje não pensaria em pensar. Seguiu em direção à varanda, olhando para o chão de madeira, sentindo-se acanhada diante do porvir..



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