31 de jul. de 2010

O século das cores


Liguei a música, hoje é Roberto Carlos. Aconselho ouvirem Todos Estão Surdos enquanto estão lendo..
Cada um precisa de uma inspiração pra escrever, essa é uma das minhas. Eu já lembro de ter dito, quase sempre começo a escrever sem saber sobre o que falar.. Deixo fluir. Que assim seja..
Acabou de me vir na cabeça que há um tempo eu escrevi aqui duas perguntas: Qual a cor do século XXI? E qual o sabor do século XXI?
Pois, vou tentar agora explicar o motivo. Eu sou muito sensitiva. Então, enxergo grande parte das coisas através do que elas me fazem sentir. Uma imagem, um som, um sabor, um cheiro, um toque.. Cada um dos sentidos, juntos e separados, me proporcionam diferentes experiências e modos de enxergar as situações que eu vi. E, acredito, eu não estou sozinha. Muitos devem ser os como eu, em maior ou menor intensidade. Já dizia Kant que nada é real, tudo deriva da forma como a gente percebe. Mais uma vez, que assim seja..
E, então, porque eu perguntei? Eu tive um professor que vivia dizendo que, mais importante do que a resposta, é saber fazer as perguntas. Nem sempre são as respostas que fazem a diferença..
A minha intenção não é achar uma única. Nesse caso, eu só quero pensar nas alternativas, e que cada um escolha a que lhe convir. Talvez, nem isso. Se eu conseguisse só deixar claro quantas e tão diversas elas são, estaria satisfeita.
A geração em que eu vivo, em que nós vivemos, é uma mistura. Mas é tanto, que eu não posso deixar de evitar pensar nas diferenças, nem de reparar nelas. Os valores, os amores, os desejos, os medos, os perdões, as ambições, as cobiças, as invejas, as amizades, os pais, os irmãos, as religiões, as culturas. Tudo misturado. Esse poderia ser o século das cores. Porque, de tão diferentes, elas servem como metáfora pras pessoas. Não tem como escolher uma só. Ninguém vive num mundo preto e branco. Nada é preto.. No mais, preto e branco já são duas cores. Impossível usar uma só. Do mesmo contraste, ou da necessidade dele, surge o contraste entre as pessoas. Aquele, aliás, TODOS, são necessários.
O que eu acho mais legal, de toda essa mistura, é que a gente pode conhecer várias cores e escolher nossa preferida. Claro, falo daqueles que possuem essa liberdade. Na prática, são tão poucos. Engraçado, porque deveriam ser muitos. No século passado, tantos morreram lutando por isso. Pra que o azul pudesse ser azul, e não atrapalhasse o verde. Não somos crianças brincando de colorir na escola. Na vida real, a escolha das cores é um pouco menos nítida.
Mas, ora, porque não podemos ser crianças? A inocência, talvez, não possa ser recuperada. A teimosia, o egocentrismo, também não. Mas a essência, aquela que a gente vê nos olhos, porque não?
Estamos, ainda, no começo. Faltam mais 90 anos de história pra terminar o que a minha geração está começando. Eu tenho curiosidade de ver como tudo vai estar, no final deste XXI. Aí sim, poder-se-á dizer a cor. E o sabor. Qual serão?
De quantas cores estaremos falando? Muitas? Poucas? Será que, a todos, será dado o direito de escolher? Eu não devo ser a única a pensar: e quantos vão morrer lutando por este direito? E quantos também vão morrer sem dar a menor importância ou atenção a essa luta? Mas, que luta? São tantas cores, que não se vê mais, estão misturadas!
Afinal, o que é melhor? Que sejam misturadas? Porque assim são menos diferentes?
Ou que sejam separadas, porque assim, cada diferença é respeitada?
A humanidade, como vai estar, pois? Colorida, ou unicolor? E qual vai ser a cor do arco-íris?
O céu, ainda vai ser azul? E as pessoas? Ainda vão se amar? Ainda vão se importar? Ainda vão.. se respeitar?
Muitas perguntas? Talvez eu esteja incomodando a sua comodidade.
Eu estou escrevendo no primeiro um décimo de século. E, se hoje eu pudesse desejar alguma coisa pros outros nove décimos que se seguem, seria que as perguntas não morressem.
As respostas talvez estejam sobrando.

 

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