26 de out. de 2010

O grito

"A dor é tão forte que nem o grito resolve. Ou resolve? A minha vontade é correr, pisar no acelerador e correr. A tantos quilômetros quanto o meu pé conseguisse pisar, e o carro conseguisse alcançar. E nesse tempo, chorar. Por dentro, e que a dor de dentro fosse pra fora. E fosse embora, junto da velocidade, os pneus deixando os rastros do meu sentimento. E que quando eu freasse, não existisse nada, além de anestesia. Ausência de tudo.
Você me libertou, mesmo não querendo que eu fosse embora. Mas sabendo que não tinha outra saída.. e eu tenho que ir, porque a porta ta fechada pra voltar..
Como eu faço pra controlar? Tudo o que tava apertado, e explodiu de uma vez? Como eu faço pra controlar? A minha vontade de gritar?
Quero correr pro mar.. e gritar. Deitar na areia. Sem pensar. Colocar pra fora..
A tristeza não cabe em mim. Não imaginei que fosse tanto.
Escuto as músicas e lembro. Leoni é minha voz: "A gente é maior do que qualquer razão". Era o que eu queria que acontecesse. Que a gente pudesse passar por cima dela. Como um bicho de pelúcia incômodo. A maldita razão.
Queria pular numa piscina bem gelada, e sentir tudo congelar. Meus sentidos, minhas reações, os sons, sabores. Queria que as imagens parassem de passar na cabeça.. Que o frio parasse tudo. Só sentir meu coração batendo. Pra me lembrar que eu estou viva, e que ele não vai parar de bater. Não vai me abandonar.. A única ausência que eu não quero agora, é a de batimentos.
Me incomoda, mas prefiro sentir a não ter a chance de saber a sensação. Achei que pudesse viver sem saber.. mas saber é poder. Agora eu posso.. entender. Agora eu posso.. tentar entender.
Mas sempre, enquanto eu sorrir e meu coração bater, eu posso sempre, aprender.
E o grito que eu calei, o grito que me fez pisar no acelerador, o grito que me fez chorar e não conseguir enxergar. Chorei e parei de ver. Vi uma cortina de água nos meus olhos.. Como é bom poder viver. Sentir vida. Mesmo querendo que ela parasse, que tudo parasse, eu sinto as batidas e vejo que nada vai parar..
Eu vou gritar. Hoje, amanhã, depois de amanhã. E depois, vou parar de gritar.
As lembranças vão descongelar. E os sentidos.. também. Então, não grito mais, mas sentir, vou sentir, sempre.
E depois, por algum outro motivo, vou gritar. De susto, medo, ansiedade, saudade. De você, de outro alguém, de você, de outro alguém. Quem vai saber? Como eu vou saber? Não vou esquecer.. e vou sempre gritar. Até quando, por você?
Ouça, você vai saber."

Beatrice Cartiller

Leoni- Quem, além de você?

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