22 de out. de 2012

One way


A noite não tinha sido fácil. Uma mistura de ansiedade, medo, angústia. Agora que chegava a hora, fraquejava. Pensou cuidadosamente nos motivos da sua decisão, repassando cada um deles, já sem nenhuma pausa. Foram tantas as vezes em que havia repetido para si, que as palavras se tornaram quase um mantra dentro da sua consciência. Não há mais nada a ser feito, já fiz tudo o que eu podia fazer, outras oportunidades me esperam em outro lugar..

Chegou a sonhar no meio da noite, imaginando-se na porta do avião, quando uma mão sem dono puxava seus cabelos e lhe pedia para ficar. Sem dono, porque ela já não existia mais. Doía-lhe lembrar e reviver os tempos em que as suas mãos as seguraram, e que chegou a pensar que tivesse encontrado a felicidade permanente. Hoje sabia que esse tipo de pensamento não se encaixa em nenhum tipo de realidade, mesmo que a sensação seja boa, muito boa.

Abriu os olhos um minuto antes de o despertador tocar, porque na verdade o sono lhe escapara há alguns dias. Levantou cautelosamente, evitando pensar, e cantando mentalmente aquela canção que tanto gostava: Não responda nunca, meu amor, pra qualquer um na rua, beija flor..
A mala já estava pronta e a roupa por usar, encima do banco, ao lado da cama. Levantou num pulo e tomou um banho quente, desejando que a água levasse junto todos os titubeios, todos os E se que insistiam em invadir seus pensamentos, e que a coragem não lhe faltasse. Sem pensar, pegou o primeiro táxi que apareceu na rua, e disse apenas: Aeroporto.



Dessa vez, não havia de quem se despedir. Aos familiares, deixara uma carta dizendo onde estaria, que logo enviaria seu contato, que esperava uma visita – nada que eles não soubessem. Aos amigos, o silêncio. Os verdadeiros entenderiam, pensou.







Desceu no aeroporto, e se percebeu andando vagarosamente em direção à fila da companhia aérea. Uma tentativa inconsciente de retardar uma partida que, no fundo, sabia que já vinha tarde. Não havia motivos pra ficar, por mais que tentasse construir realidades paralelas, outras opções não se lhe apresentavam, pelo simples motivo de não serem possíveis. Desistira há tempo de lutar contra o inevitável, mas agora que chegara o momento, percebia-se tão ou mais esperançosa do que antes, uma esperança morta, de um porvir que ficou pelo caminho. Chegou a questionar a própria sanidade, pela capacidade de continuar insistindo em caminhos sem saída.
Engoliu em seco quando a mulher do balcão desejou boa viagem. A primeira viagem que fazia e que não tinha outra escolha, senão partir. Questionou-se: como pudera por tanto tempo adorar aeroportos? Naquele momento sentia uma repulsa enorme, e uma opressão no peito. Olhou em volta em busca de um motivo pra ficar, mas sabia que não havia nenhum.

Sentou no avião, desejando que os olhos se fechassem e pudesse esquecer. Finalmente, seu desejo foi atendido. Recostou-se na cadeira e, apesar de todos os sentimentos que lhe dominavam, foi tomada por um cansaço incontrolável, e por uma certeza de que as coisas não poderiam piorar. Logo, melhorariam.  Remexeu-se na cadeira quando o avião decolou, para logo voltar a um lugar onde não sentia, ouvia, via, nem pensava em nada.



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