20 de jun. de 2011

O amor novo: plural + plural

Uma vez eu comparei as pessoas às cores.
Tons de rosa, laranja, verde, preto, azul, amarelo, roxo. Inúmeras e nunca iguais, tem sempre a presença, mesmo que imperceptível, de saturações e contrastes diferentes.
Começo a considerar que não há nada que defina melhor os amores que tivemos, temos e teremos na vida. O conjunto de características: químicas, vontades, medos, ambições, desejos, músicas, filmes, gostos. Gostos culturais e os físicos, mesmo. Porque cada beijo tem um sabor diferente, que, contudo, não depende somente do beijo.
Quando, nessa interminável cadeia de detalhes, pensa-se os amores – para os que o fazem - eles costumam aparecer assim, como se fossem diversos diagnósticos: com data de nascimento (e signo), histórico familiar e experiências de vida. No fim, as características de cada um. Como se nos fosse possível, dotados de informações, fazer a escolha certa – ou escolha alguma.
Conversei com um amigo recentemente sobre o que seria amar. Concluímos que a maioria das pessoas não sabe o que significa amar, nos incluímos nessa massa, mas reconhecemo-nos diferentes porque, pelo menos, sabemos disso. Muitos acham que amam, sem enxergar alem desse dito amor. Dependem, sentem-se sozinhos, amedrontados, sedentos, exagerados, tímidos. São diversos os motivos que encontram para transformar o outro em amado. Objeto do amor.
Outro pensamento. A bendita tampa da panela. Começo a pensar que a cada um de nos eh dada a possibilidade de diversas panelas e tampas, quaisquer que sejam nossos papeis nessa dupla.
Porque, se eu não sou a mesma de dois anos atrás, como eu posso ter a mesma tampa? A fluidez de nos mesmos não permite que exista just one fit. Somos diversos eus em um único corpo e vida, alternando-se diante das possibilidades e fazendo com que elas se adaptem – ou assim deveria ser, visto que somos atores de nossas vidas, ou mais uma vez, deveríamos ser. Como dar a uma cartela de cores somente uma possibilidade de escolha?
Por isso, considero ultrapassada a noção de os relacionamentos unirem um mais um, que formam dois – pior ainda aquele pensamento de que dois formam um. O singular ficou no século passado. Não somos, cada um, unidade. Eu sou plural, tu és plural, nós somos plural. Plural aqui, no singular mesmo, porque o plural e um conjunto (nem sempre homogêneo), mas um conjunto. Plurais são dispersos e amorfos. Pessoas plurais estão muito perdidas para amar e direcionar essa energia pra algo externo, ainda são muita coisa e não souberam juntar os pedaços de si mesmos.
Entao, considerando essa nova possibilidade de que amar mudou, e hoje plural mais plural constitui a nova soma – com resultados diversos, que não podem ser resumidos em fórmula nenhuma, o começo mudou.
O amor hoje traz mais significados estranhos e belos, a depender de quem olha. Ele segue o fluxo da sociedade. Assim como os nossos genes, estamos reconhecendo a impossibilidade e a infelicidade da homogeneidade a qualquer custo.
Se isso faz sentido para os outros sentimentos, porque o amor, o mais insano e perturbado deles, seria deixado de lado?

O desafio mudou. O que deveríamos buscar hoje, ao invés de alguém exatamente como nós – o motivo da angústia de muitos – é exatamente o oposto disso: alguém diferente o suficiente, desafiador o suficiente, para que possam permanecer juntos e discordando. Claro, nos limites do aceitável, porque ainda somos essencialmente conservadores e amedrontamo-nos diante de algo excessivamente novo – talvez isso mude um dia.
Por enquanto, alguém que esteja no limite extremo da nossa paciência, ou algo próximo disso, que nos faca questionar se estamos mesmo certos ou que finalmente entendamos que não há caminho certo, after all.
Afinal, se a concórdia fosse o apogeu da sociedade, o mundo teria tido seu final feliz há séculos.

Um comentário:

  1. adorei Camii, mto bom!!!
    sempre que eu leio coisas boas eu comento, pq sei que isso serve (e mto) de estimulo a quem escreve!! continue escrevendo assim!! =]
    beeeeeeijos da sua fã =*

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