Outra festa, estava
deslumbrante e radiante, distribuindo alegria e obrigadas ao ouvir os elogios
quando passava. Era a sua formatura na faculdade, finalmente. “Fiz questão de
tirar uma foto com cada um deles, ouvir o que tinham a dizer, fazer novos
planos e brindar à antigas e futuras conquistas, abraçar meus pais e familiares
que estavam presentes, e agradecer a todos pelo apoio e por terem acreditado em
mim. Poucos momentos na vida são mais emocionantes do que o fim de um sonho,
porque dão espaço para o surgimento de outros - foi assim que terminei o meu
discurso de oradora da turma. Fui aplaudida pelos meus professores, os já
antigos colegas de faculdade, e todos que estavam presentes.”
Respirou fundo depois
dessa última recordação. Olhos marejados de lágrimas, pensou em dar uma pausa e
mergulhar no mar. A água gelada acalmaria seus pensamentos e as batidas de seu
coração, o mar transportaria para seu corpo a calma que emitia, e aos poucos
foi ficando mais leve. Olhou pra cima e deixou que o sol queimasse seu rosto,
agora sem protetor solar como usava na infância, e sorriu sentindo-se completa
e tranqüila. Olhou à sua volta para confirmar que estava sozinha, mas tão acompanhada
de memórias e sensações que parecia estar rodeada por todos os quais lembrava.
Em breve estarei, pensou. Saiu do mar, sentindo aquele cheiro de sal de sua
infância, mas dessa vez não se encaminhou para um chuveiro. Continuou sentindo
aquele cheiro e percebendo como grandes lembranças suas estavam associadas ao
sol, ao mar, ao verão.
Viu-se primeiro em uma
praia familiar, onde havia passado um carnaval rodeada de amigos, ainda jovens
e acompanhados de sentimentos de cumplicidade, reciprocidade, amizade..
Foram confidências
sinceras, brigas genuínas, raivas descontroladas e brincadeiras inconseqüentes,
envolvidos em uma ausência de medo, vergonhas, julgamentos e intolerâncias,
onde cada um pudera revelar-se a si mesmo, para si e para os outros, e de onde
cada um saiu com a certeza de que raras seriam as chances de repetir a
experiência, permitindo-se uma confiança cega e uma compreensão desmedida.
Outros momentos como esse vieram à cabeça, com amigos de outras épocas, de
diversos lugares e momentos, os quais pareciam ser eternos enquanto vividos..
Perdeu-se em
lembranças desses pedaços de memórias, lembrou das fotos tiradas e das noites
mal dormidas, das bebedeiras e das ressacas incuráveis, dos arranhões e quedas,
das dores de garganta e febres, das inúmeras piadas contadas e que se perderam,
das brincadeiras de criança que se transformaram em diversões de adultos, dos
filmes assistidos e das historias inventadas, as viagens planejadas que davam certo
ou nem tanto, os sonhos abandonados no meio do caminho..
Lembrou de seus pais e
de como ouviam cada um de seus sonhos como se fosse o primeiro, e de como eram
pacientes por ouvir, ouvir, ouvir.. E de quantas vezes tinha chorado, por
qualquer motivo que fosse. Mas entre todos, o mais presente dos motivos havia
sido o coração partido. Quantas vezes? Do primeiro beijo ao último que havia
dado, perdera as contas dos amores e desamores que teve, correu pelos seus
olhos a imagem de alguns deles, tão diferentes e distantes que lhe pareciam,
alguns já não lembrava..
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