"Eu tinha acordado ansiosa, era
meu primeiro dia de aulas na turma da manhã. Minhas amigas também iam mudar
junto comigo, mas mesmo assim me tremia da cabeça aos pés quando entrei no
chuveiro, apesar da água quente. Troquei de roupa e coloquei a farda nova, a
barriga fazia reviravoltas. Desisti da ideia de comer qualquer coisa que fosse,
queria chegar logo e olhar logo pros meus novos coleguinhas de sala. Botei os
pés no colégio, que eu já conhecia, mas parecia estar vendo pela primeira vez.
Fui andando rápido porque não aguentava a ideia de esperar mais um minuto
sequer. Subi as escadas distraída, olhando para baixo, envergonhada e
assustada, inquieta. Pelo menos sabia que minhas amigas deviam ter me ligado e
estariam a minha espera na sala, algo conhecido pra eu me apoiar. Lembro que eu
tinha 9 anos, e enfrentar pessoas desconhecidas era uma ideia tão assustadora,
hoje sinto vontade de rir. Não precisei procurar muito pela sala, porque sabia
onde era. Fui em direção a ela olhando pra cima somente pra evitar bater em
algo ou alguém, e foi em uma dessas vezes que eu levantei os olhos e não
consegui mais abaixar. Ele tinha olhado de relance pra mim, sorriu de uma
orelha a outra e entrou em uma das salas. Fui andando devagar com o meu coração
batendo forte, até perceber que aquela seria a minha sala, também. Olhei dentro
da sala em busca, não mais das minhas amigas, mas daquele menino que havia
visto há pouco. Lá estava ele, rodeado de mais alguns meninos, soltando
brincadeiras e despertando gargalhadas. Das brincadeiras eu já esqueci, mas do
sorriso lembro até hoje.."
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De repente se viu em outro lugar,
alguns anos dali. Tinha 12 anos agora e estava em uma festa, em outra cidade,
visitando parentes.
`O nome dele era Vinicius, eu o havia
conhecido há apenas quinze dias. Estava passando férias e fui apresentada a ele
por uma de minhas primas. Ele era alto, magro, queimado de sol, cabelo
arrumadinho de cdf e agia como se fosse um príncipe a ser descoberto, um
daqueles que tinha sido tirado do trono quando criança. Era educado e
atencioso, charmoso e envolvente, eu simplesmente perdi o fôlego quando o vi
pela primeira vez. Desde então, eu passei todas as noites seguintes com uma
foto dele por perto, que eu olhava sempre antes de dormir, enquanto ouvia Kiss
Me. Minha amiga já não aguentava mais ver me pagando aquele papelão, me chamava
de abestalhada apaixonada, mas deitava na cama e cantava comigo, duas
adolescentes sonhadoras que nunca tinham beijado ninguém. Naquela noite da
festa, eu havia me arrumado cuidadosamente porque sabia que iria vê-lo, e
estava nervosa somente por essa perspectiva. Não demorou para que nos
encontrássemos - a essa altura todo mundo já sabia da minha queda por ele – e
um amigo chegasse pra ele dizendo: Vinicius, olha só quem esta aqui. Ele veio
na minha direção andando devagar, eu me senti como se tivesse em um daqueles
filmes em câmera lenta, aquele sorriso direcionado a mim, não sabia se sorria
ou se ficava quieta, ou tentava me acalmar, ou não fazia nada. A próxima coisa
que eu lembro, uma sensação de estar flutuando, imagens de nuvens no ceu
apresentavam-se diante de meus olhos fechados, meu coração quase saindo pela
boca e uma paz interior tão grande que não combinava com meu estado de êxtase.
Quando abri os olhos, olhei pros dele na tentativa de guardá-los na memória,
tão próximos que estavam de mim, e sorri."
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