23 de dez. de 2008

Incomuns

(Texto Antigo) Hoje eu quero falar sobre ser diferente. Usando-se de um ditado popular, coisa que eu adoro, cito: de perto, ninguém é normal. Até porque a definição de normalidade é constantemente colocada em questão. Pra mim, é relativa demais pra ser condensada em uma só. Um dos problemas de hoje em dia, conseqüência direta da “burguesalidade”¹ social, é a ditadura. Engraçado que por mais que se insista em superar uma situação, ela volta, caso não tenha sido superada de verdade. Por isso retomo o vocábulo ditadura, que de certo traz à tona a lembrança, em primeiro lugar, da figura autoritária e “solene” de Hitler. “O conservadorismo foi superado”, afirma a democracia, de forma que as relações sociais – de todos os tipos – que presenciamos são todas libertadas e libertadoras. Essa passividade-atividade de um tipo de governo me parece extremamente utópica, e na prática é ainda mais do que isso.
Os sonhadores dizem que vivemos num mundo livre. Os pessimistas que o mundo nunca esteve pior. Eu acrescento que o número de problemas é maior do que as soluções. Ou seja, por mais que concorde com ambos, a balança cai mais pra um lado só. Um professor meu sempre me dizia que eu tinha as respostas, o problema era fazer as perguntas certas. Acredito compartilharmos esse defeito, como homens, com o mundo. De forma que há uma transferência recíproca de respostas mas quase nenhum tempo é gasto com as perguntas. Contraditório. A pesquisa tem como maior base a busca por respostas, e parte de uma hipótese, uma pergunta. Se pudermos considerar a atividade científica como um tipo de “arte”, no sentido de ser uma atividade exercida por pessoas que apreciam fazê-la, a frase “a vida imita a arte” não cabe muito bem pra situação. E, se as perguntas são raras, dentre elas, incluir o questionamento quanto à diferença parece ter entrado em extinção.
Uma busca sem tamanho pela homogeneidade. Há, de fato, uma democratização das idéias. Tornam-se populares, porém, concepções e padrões que nada têm de igualitários. As idéias estão se perdendo nas páginas dos dicionários: ser e ter são dois verbos, e não um só, fundido. Fica a dúvida: como reclamar, utilizando-se de termos gramaticais, com o índice anormalmente alto de analfabetização escancarado, pra quem quiser ver? Quantos irão entender? Pior, quantos querem entender?
A diferença é enriquecedora. Destruí-la e substituí-la por uma camada uniforme é ousado, inconseqüente e imprudente. O que precisa realmente de substituição é o modo como as perguntas vêm sendo feitas, e talvez encontre-se um meio de recuperar o tempo perdido.
¹. Pode-se entender esse termo em substituição a globalização, acrescentando-se certa pejoratividade e credulidade quanto à sua real função e utilidade no mundo, em especial, no lado ocidental.

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